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Karina (27/09)
Olá, também estou buscando o contato do barqueiro Tatu para uma viagem ...
ozcarfranco (30/08)
hola estimado, muy lindas fotos de sus recuerdos de viaje. yo como muchos...
Flávia (14/07)
Você conseguiu entrar na Guiana? Onde continua essa história?...
Martha Aulete (27/06)
Precisamos disso: belezas! Cultura genuína é de que se precisa. Não d...
Caio Monticelli (11/06)
Ótimo texto! Nos permite uma visão um pouco mais panorâmica a respeito...
Elefante-marinho se ergue sobre rival na praia de Gold Harbour, na Geórgia do Sul
Como já falei em alguns posts anteriores dessa nossa viagem pelos mares do sul, nós chegamos a esta região bem no final da temporada de acasalamento dos elefantes-marinhos. A esta altura do ano, o normal seria já vê-los de partida, após todo o processo que se inicia com a chegada dos grandes machos, a briga entre eles por território, a formação dos haréns, as muitas cópulas, nascimento dos novos filhotes e amamentação desses. Mas aparentemente a estação tem atrasado com o passar dos anos e as praias aqui da Geórgia do Sul ainda estão lotadas dessas “focas gigantes”.
Um dos reis da praia de Gold Harbour, na Geórgia do Sul
Esses enormes animais, junto com os elefantes-marinhos do Pacífico Norte, são as maiores espécies de “pinípedes”, aquela família que popularmente chamamos de “focas”. Na verdade, esses aqui do sul são ainda maiores que seus primos próximos do norte, formando duas espécies distintas que levam o mesmo nome. Aparentemente, em alguma das eras glaciais anteriores, os elefantes-marinhos conseguiram migrar de um extremo ao outro colonizando as duas áreas mais frias da terra, coisa que pinguins ou ursos polares nunca foram capazes de fazer. Depois, com o isolamento geográfico, os dois grupos se diferenciaram, formando espécies diferentes, mas ainda muito semelhantes. Uma dessas diferenças está exatamente no tamanho, a espécie do sul sendo maior e podendo chegar quase aos 7 metros de comprimento e incríveis 5 toneladas de peso. Isso o torna não apenas o maior dos pinípedes, mas o maior carnívoro a se locomover fora d´agua dentre todas as espécies do planeta. Elefantes-marinhos são primordialmente aquáticos, mas chegam a passar meses em terra na época da reprodução.
Elefante-marinho observa possíveis rivais na praia de Gold Harbour, na Geórgia do Sul
Um dos grandes elefantes-marinhos da praia de Gold Harbour, na Geórgia do Sul
A diversidade genética dos elefantes-marinhos do sul também é maior que daqueles do norte, mas a razão para isso não é natural e sim culpa nossa, do bicho-homem. Caçados intensamente por sua enorme capa de gordura, os elefantes-marinhos do norte chegaram a ser declarados extintos em 1860. A sorte desses aqui do sul é que estavam mais longe da chamada “civilização”. Também eles sofreram muito com a caça, mas desde que essa prática terminou nas primeiras décadas do século XX, a população conseguiu se recuperar. No norte, no ano de 1864, foi descoberta uma “colônia secreta” na ilha de Guadalupe, na costa da Baja California. Por incrível que pareça, a reação dos cientistas da época foi ir até lá e matar sete dos oito elefantes-marinhos encontrados para poder estudá-los e “guardá-los para a ciência”, em uma expedição do já então renomado Instituto Smithsonian. Por sorte, aparentemente havia mais elefantes vivos, talvez em suas viagens marinhas. Com o início da proteção à espécie patrocinada pelos governos mexicano e americano, eles também conseguiram se recuperar, passando a reocupar as antigas colônias, inclusive no próprio continente. Mas todos os que vemos hoje por lá, na costa do Oceano Pacífico nesses dois países, são descendentes desses pouquíssimos sobreviventes daquela última colônia.
Um elefante-marinho macho nos observa em praia de Gold Harbour, na Geórgia do Sul
Após afujentar rival, elefante-marinho volta vitorioso ao seu harém em praia de Gold Harbour, na Geórgia do Sul
Mas voltando aos elefantes aqui do sul, nós já estávamos felizes de ter visto tantos deles aqui nas praias da Geórgia, mas um pouco desapontados de não ter chegado um pouco antes para assistir às batalhas titânicas entre os grandes machos da espécie. No início da temporada, eles medem forças para ver quem vai abocanhar o melhor território das praias e, posteriormente, ter direito aos maiores haréns. Esses grandes grupos chegam a ter 100 fêmeas, todas elas esposas de um único macho. Apenas uma pequena parcela dos machos dessa espécie consegue passar seus genes para frente de forma “oficial” e a luta por esse direito é épica. Eu já tinha visto tais baralhas em documentários, mas o sonho de vê-las ao vivo era aqui, durante esta viagem.
Mais um confronto entre elefantes-marinhos em Gold Harbour, na Geórgia do Sul, com o Sea Spirit como testemunho
Mais um confronto entre elefantes-marinhos em Gold Harbour, na Geórgia do Sul, com o Sea Spirit como testemunho
Pois bem, eis que na nossa última chance de desembarque na Geórgia do Sul, aqui na magnífica Gold Harbour, para surpresa dos nossos guias especializados, essa chance nos foi presenteada. A estação nessa parte da ilha está ainda mais atrasada e os elefantes de Gold Harbour ainda estão se digladiando para a felicidade dos turistas que aqui chegam (nós, do Sea Spirit!). Assim, depois da nossa inesquecível sessão de caiaque aos pés da cascata de gelo que marca a paisagem da baía, tivemos um bom tempo em terra para acompanhar essa luta de vida ou morte entre os maiores mamíferos terrestres (ao menos nessa época do ano!) do planeta.
Um amedrontador elefante-marinho macho na praia de Gold Harbour, na Geórgia do Sul
Elefante-marinho derrotado nada perto da praia de Gold Harbour, na Geórgia do Sul
Aliás, era por isso que havia tantos elefantes-marinhos nadando nas águas da baía. Eram os machos menores que ainda não têm força ou coragem para enfrentar os reis da praia. Ficam ali, de longe, esperando a chance de, quem sabe, tirar uma “casquinha do harém”. Com tantas fêmeas em seu grupo, um grande macho não pode se dar ao luxo de se distrair nem por um momento. Passam meses em terra, sem mesmo se alimentar, apenas para tentar proteger seu “patrimônio” e garantir que os filhotes que nasçam carreguem os seus genes. De tempos em tempos, um outro grande macho aparece na praia para desafiar o “dono” do harém. Enquanto os dois valentes se enfrentam, é a grande chance de machos menores e oportunistas se aproveitarem e, literalmente, comerem pela beirada. Mas têm de ser rápidos, pois o grande macho está de olho e, assim que afastar o rival, voltará furioso contra as outras ameaças.
Um grande elefante-marinho se ergue na praia de Gold Harbour, na Geórgia do Sul (foto de France Dionne)
Filhotes de elefantes-marinhos brincam na praia de Gold Harbour, na Geórgia do Sul Gold Harbour, na Geórgia do Sul (foto de Mitch Jasechko)
Enfim, para nós foi uma verdadeira diversão acompanhar toda essa confusão. A cena de ver aquelas toneladas de carne se movendo rapidamente para um confronto é absolutamente paralisante, uma exibição de força e poder que nos faz sentir minúsculos e desprezíveis. Algumas vezes, tivemos a sorte de estar entre um macho dominante e outro, que tentava roubar-lhe alguma fêmea. As distâncias ainda eram enormes e seguras, mas vê-lo olhar para a nossa direção e começar sua corrida para nós (na verdade, para o macho que estava ali do lado) é amedrontador. Não só para nós, mas também para o macho espertinho que, ainda mais rápido do que nós, bate em retirada.
Elefante-marinho corre para afujentar um rival na praia de Gold Harbour, na Geórgia do Sul
Elefante-marinho corre para afujentar um rival na praia de Gold Harbour, na Geórgia do Sul
São poucos os combates que se efetivam de verdade. É preciso que haja dois machos realmente grandes e corajosos. O normal é que um deles corra logo, assim que seja notado. Ou então, após uma exibição de tamanho. Os machos estufam seu peso e se levantam, ficando muito maiores do que nós. Quando a diferença de tamanho e força fica clara entre eles, o menor não se faz de bobo e corre para longe.
Uma batalha feroz de dois grandes machos de elefante-marinho na praia de Gold Harbour, na Geórgia do Sul
Uma batalha feroz de dois grandes machos de elefante-marinho na praia de Gold Harbour, na Geórgia do Sul
Uma batalha feroz de dois grandes machos de elefante-marinho na praia de Gold Harbour, na Geórgia do Sul
Mas algumas vezes, sim, eles se enfrentam. Dão grandes trombadas de peito e mordidas poderosas um no outro. Mesmo com suas peles grossas, os dentes do outro lado também são “grossos” e os ferimentos são visíveis. Todos os grandes machos têm seus pescoços repletos de cicatrizes de antigos confrontos. É o preço a ser pago para poder passar seus genes para frente... Não é fácil ser o maior mamífero da terra!
Elefantes-marinhos se enfrentam na praia de Gold Harbour, na Geórgia do Sul
Cuidadosamente, grupo de pinguins rei atravessa o território dos elefantes-marinhos na praia de Gold Harbour, na Geórgia do Sul
E as fêmeas, como se comportam? Bom, como em todas as espécies, há de todo tipo. Há aquelas que gostam sim de dar uma saidinha e uma variada. E há muitas que não querem saber de novidade. Muito maiores do que nós, mas muito menores do que seus parceiros, elas nada podem contra um elefante-marinho macho. Pelo menos, não diretamente. Mas podem dar uns gritos e avisar ao macho dominante da tentativa do oportunista. E aí, é “nadadeiras, para quê te quero!”, pois ele virá furioso contra o macho invasor.
Um grande elefante-marinho "avisa" seus concorrentes para não se aproximar de seu harém na praia de Gold Harbour, na Geórgia do Sul
Nessas grandes batalhas, as grandes vítimas são os filhotes. Se tiverem o azar de estar no caminho do grande macho, poderão ser atropelados, morrer sufocados ou ter algum osso quebrado. Os grandes machos apenas os aturam, mas não se preocupam em se desviar deles. Ainda mais na pressa de botar algum engraçadinho para correr. Para as mães, proteger um filhote numa hora dessas é impossível. Tem mais é de se proteger a si próprias. Assim como nós, turistas. Nada de estar no lugar errado na hora errada, a não ser que queiramos virar creme de tomate!
Filhotes de elefante-marinho na praia de Gold Harbour, na Geórgia do Sul
Um petrel sobre a carcaça de um pequeno elefante-marinho na praia de Gold Harbour, na Geórgia do Sul
Por fim, além das cicatrizes, eventualmente um grande macho mais teimoso pode ser ferido de morte. Uma mordida mais profunda que atinja alguma veia ou artéria importante ou um ferimento que infeccione pode levar o animal à morte. Nesse caso, a carcaça estará lá durante um bom tempo para lembrar aos outros machos o preço de tanta testosterona. Não que se importem muito, parecem não reconhecer os seus mortos. Quem sai lucrando, nesse caso, são as aves de rapina que terão carne por semanas a fio. Enquanto comem daqui, as brigas, o namoro e o grito das crianças continua dali.
Carcassa de elefante-marinho na praia de Gold Harbour, na Geórgia do Sul
Um albatroz examina a carcassa de elefante-marinho na praia de Gold Harbour, na Geórgia do Sul
Para nós, foi mesmo um verdadeiro prêmio poder testemunhar tudo isso. De alguma maneira, isso nos trouxe ainda mais para perto da realidade desses animais, suas dificuldades, rotinas e alegrias do dia a dia. Pois é, nem só de stress vivem os elefantes-marinhos e nós pudemos acompanhar também, nessa mesma praia e manhã, o lado mais ameno da vida deles, como filhotes brincando e descobrindo o mundo ou adultos descansando tranquilamente ao sol. Assunto para o próximo post...
Um elefante-marinho em meio a seu harém na praia de Gold Harbour, na Geórgia do Sul
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