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Karina (27/09)
Olá, também estou buscando o contato do barqueiro Tatu para uma viagem ...
ozcarfranco (30/08)
hola estimado, muy lindas fotos de sus recuerdos de viaje. yo como muchos...
Flávia (14/07)
Você conseguiu entrar na Guiana? Onde continua essa história?...
Martha Aulete (27/06)
Precisamos disso: belezas! Cultura genuína é de que se precisa. Não d...
Caio Monticelli (11/06)
Ótimo texto! Nos permite uma visão um pouco mais panorâmica a respeito...
Propaganda pró-britânica em Port Stanley, a capital de Falkland
Passeando por Port Stanley, é fácil perceber que ocorreu algo muito grave por ali, poucas décadas atrás. Seja pelos avisos sobre minas, seja pelas mensagens nem sempre muito delicadas aos argentinos, a guerra de 82 ainda está muito viva na memória dos habitantes do arquipélago.
Representação de trincheira argentina em museu histórico de Port Stanley, a capital de Falkland
Para quem já tinha perto dos 10 anos em 1982, há de se lembrar de um assunto que ocupou todo o noticiário da TV e jornais entre os meses de Abril e Junho daquele ano: a crise das Malvinas, que terminou como a Guerra das Malvinas. Nomes como “Port Stanley”, “fragata”, “porta-aviões”, “Sea Harrier”, “Sheffield”, “Belgrano” e o famoso “Exocet” passaram a fazer parte do nosso vocabulário e imaginário.
Propaganda argentina durante a ocupação da ilha em museu histórico de Port Stanley, a capital de Falkland
Recapitulando rapidamente a história: Espanha e Inglaterra reclamavam soberania sobre esse arquipélago no Atlântico Sul, mas os ingleses abandonaram as ilhas ao final do séc. XVIII, mesmo ainda dizendo que elas pertenciam a Sua Majestade. A Argentina, depois de se tornar independente, se julgou herdeira da soberania e mantinha uma esparsa e confusa ocupação do arquipélago. Naquela época, nem a Patagônia era ocupada, território livre dos indígenas. Os ingleses voltaram em 1833 e expatriaram uma pequena guarnição argentina que lá estava. Desde então, foram os senhores de Falkland, apesar das contínuas reclamações hermanas. Durante o governo nacionalista de Perón, na década de 50, as reclamações de soberania aumentaram. Foi aí que começaram a surgir em todas as cidades e estradas argentinas ruas, praças e monumentos com o nome ou mensagem “Las Malvinas son Argentinas!”.
Memorial aos mortos da guerra de 82, em Port Stanley, a capital de Falkland
Memorial aos mortos da guerra de 82, em Port Stanley, a capital de Falkland
Na segunda metade do séc. XX o arquipélago já tinha perdido boa parte de seu valor estratégico-militar. Numa época em que porta-aviões e mísseis podem levar destruição e poder de fogo a qualquer parte do mundo, a ocupação de Falkland havia se tornado um grande peso para o Tesouro Britânico. Afinal, manter a infra-estrutura e enviar alimentos para tão longe custava caro e a lã das ovelhas não estava pagando a conta. Fazia muito mais sentido aumentar os laços econômicos e até políticos das ilhas com a Argentina, muito mais perto dali. Foi quando as discussões para uma transferência de soberania evoluíram bastante e é muito capaz que, seguindo os caminhos “normais”, tivessem o mesmo resultado do que ocorreu em Hong Kong, que voltou a ser chinês depois de mais de um século de soberania britânica.
Monumentos a ingleses mortos na guerra em Port Stanley, capital de Falkland
No início da década de 70 o velho populista voltou ao poder na Argentina, depois de longo exílio na Espanha. Tudo indicava que as negociações evoluiriam ainda mais. A Argentina até foi a responsável pela construção do aeroporto do arquipélago, ganhando a simpatia dos habitantes locais. O problema é que, no continente, Perón faleceu em meio a uma crise política cada vez maior, extrema esquerda e direita se enfrentando nas ruas das grandes cidades. Sua 3ª esposa e vice-presidente assumiu, mas era completamente inapta. As tensões políticas se exacerbaram e os militares deram um golpe, instaurando a mais feroz ditadura militar que essa parte do mundo já viu. Em poucos anos, foram 30 mil mortos e outros milhares presos e torturados. Corpos apareciam boiando nas praias do Uruguai. Haviam sido atirados de helicópteros e aviões militares sobre o Rio da Prata. É claro que um governo assim desestimulou os britânicos a uma transferência de soberania. As negociações empacaram.
Mensagem pró-britânica em Port Stanley, capital de Falkland (foto do Peter)
Na Argentina, a eficiência repressiva só era comparável a ineficiência administrativa e econômica. O país estava em grave crise social e o governo, mais impopular do que nunca. Grandes manifestações pediam mudança da política econômica e o fim da ditadura corrupta e sangrenta. Numa última cartada para se manter no poder, o General Galtieri sacou seu az da manga: invadiu e ocupou as Malvinas. De um dia para o outro, de grande vilão passou a grande herói no país, sendo aclamado entusiasticamente nas ruas. Por toda a América Latina, até mesmo as forças de esquerda passaram a apoiar o ditador de direita. Nada como o patriotismo cego!
Foto de soldados ingleses durante a guerra, em museu histórico de Port Stanley, a capital de Falkland
O cálculo dos militares argentinos era o seguinte: primeiro, ganhariam grande apoio interno, o que realmente aconteceu. Segundo, o fraco governo inglês da Primeira-ministra Margaret Tatcher não se daria ao trabalho de vir reconquistar essas pequenas ilhas no sul do planeta. Terceiro, o governo militar da Argentina sempre fora o mais incondicional aliado dos Estados Unidos no contexto da Guerra Fria, o que garantiria, no mínimo, a neutralidade da grande super potência do hemisfério. O problema é que as duas últimas premissas estavam profundamente erradas. Tatcher viu aí uma grande possibilidade de unir os britânicos e fortalecer seu governo. E os Estados Unidos, depois de tentar mediar a paz com uma retirada argentina, acabaram apoiando com informação e logística um aliado que sempre consideraram muito mais importante do que a própria Argentina. Rapidamente, o velho Império acordou, organizou uma poderosa força-tarefa capitaneada pelos porta-aviões Hermes e Invincible e a enviou ao Atlântico Sul. Os dados estavam lançados...
Interior do museu histórico de Port Stanley, a capital de Falkland
Tudo foi muito rápido. A Argentina ocupou as ilhas no dia 2 de Abril. No dia 12 de Abril os britânicos já declaram uma área de exclusão naval e aérea de 200 milhas náuticas ao redor do arquipélago. Qualquer navio ou avião por ali poderia ser derrubado ou afundado. Até mesmo um Boeing da Varig fazendo a linha para a África do Sul e voando fora desse limite foi abordado por aviões ingleses. Enquanto isso, a força naval britânica se aproximava, frenéticas negociações se desenrolavam, a Europa se unia em torno da Inglaterra enquanto países latinos, de forma geral, apoiavam a Argentina, exceção ao Chile, que ao longo da crise deu apoio operacional aos ingleses. As negociações não tiveram sucesso e no dia 24 de Abril os ingleses retomaram a posse da Geórgia do Sul, além de danificarem e tomarem o submarino argentino Santa Fé. Era a guerra que parecia começar, ainda diante de um mundo atônito com a velocidade dos acontecimentos.
Destroço de avião argentino em museu de Port Stanley, a capital de Falkland
A certeza da guerra só veio alguns dias depois, com o início da batalha pelo controle aéreo sobre o arquipélago. Foi quando, no dia 2 de maio, um submarino inglês afundou o cruzador argentino General Belgrano fora dos limites da zona de exclusão. No evento mais mortífero dessa guerra, morreram 323 marinheiros argentinos, com outros 700 sendo recolhidos do mar e transformados em prisioneiros. Agora, não tinha mais volta. Dois dias depois veio o troco, quando a fragata inglesa Sheffield foi afundada por um míssil de fabricação francesa, o Exocet, disparado por um avião argentino, matando 20 marinheiros britânicos. Ao todo, foi um mês de renhidas batalhas navais e aéreas até que, em 21 de Maio, forças inglesas desembarcaram na baía de San Carlos, em West Falkland. Foram precisos mais 24 dias de batalhas terrestres para que, em 14 de Junho, as forças argentinas em Port Stanley se rendessem. O saldo final foi de 907 mortos, sendo 649 argentinos, 255 ingleses e 3 civis.
Adesivos pró-Inglaterra em Port Stanley, capital de Falkland (foto de Brian Myers)
A derrota argentina foi fatal para a ditadura militar, que teve de ceder o poder político em seu país. Durante a guerra, os argentinos acreditavam estar vencendo as batalhas, enganados por uma imprensa controlada e ufanista. A descoberta da dura realidade foi um golpe para o orgulho nacional, algo que ainda tentam lidar até os dias de hoje, 30 anos depois. Mas o sentimento das “Malvinas Argentinas” não mais se arrefeceu, fazendo parte da psique nacional, a nova geração aprendendo isso desde cedo, a única ideia a unir os mais variados espectros políticos da vida nacional. O problema é que a guerra também teve o efeito de fortalecer o espírito inglês de soberania das ilhas, mesmo que isso custe caro. E o pior, a invasão e a possibilidade de viver sob o jugo de uma sangrenta ditadura militar causou um forte ressentimento entre os Kelpers, os habitantes de Falkland, que passaram a abominar qualquer união com o país vizinho.
Mensagem política em Port Stanley, capital de Falkland (foto de Mitch Jasechko)
A Argentina segue hoje na sua luta pela soberania do arquipélago. O problema é que segue pelo caminho errado. É contra qualquer participação dos Kelpers nas negociações, conversando diretamente com os ingleses. Em um plebiscito recente nas ilhas, a opção de permanecer unido à Grâ-Bretanha venceu com avassaladores 98% dos votos. A economia das ilhas continua bastante dependente do Tesouro Inglês, apesar dos ganhos com o turismo estarem cada vez maiores. Essa ainda é a principal força argentina nas negociações, o prejuízo que Falkland continua representando para os contribuintes ingleses. Por isso, e não pela alegada “preocupação ecológica”, o governo argentino faz de tudo para que não prospere a possibilidade de exploração de petróleo em Falkland. Tudo indica que há sim muito óleo sobre a terra por ali, o que traria a independência econômica do arquipélago se fosse explorado. A Argentina ameaça de todas as maneiras retaliar as empresas envolvidas nessa possível exploração.
Mensagem contra argentinos em Port Stanley, capital de Falkland (foto de Mitch Jasechko)
Para mim, está claro que o caminho deveria ser outro. Mas com um governo populista como o atual, acho meio difícil. Teria de ser um caminho de longo prazo. Argentinos deveriam trabalhar para ganhar os corações e mentes dos Kelpers através de ajuda e cooperação, e não de ameaças. É claro que todos sairiam ganhando, as ilhas tão próximas do continente, o que facilitaria e muito o comércio e o turismo. Construir o aeroporto foi uma ótima ideia, Invadir a ilha, foi péssima. Tentar bloquear a ilha economicamente também é uma péssima ideia. Oferecer ajuda na área médica e educacional seria uma ótima ideia. Demoraria uma geração para baixar os ânimos. Mas uma geração, para quem tem visão de longo prazo, passa rápido.
Aviso sobre o cuidado a ser tomado com as minas ao redor de Port Stanley, capital de Falkland (foto de Mitch Jasechko)
Por fim, um último aspecto. Os argentinos deixaram atrás de si, principalmente ao redor de Port Stanley, uma miríade de campos minados. Era uma tentativa de defesa contra uma força militarmente superior. Essas minas são de difícil detecção e já houve acidentes ao se tentar encontrá-las e desarmá-las. A solução encontrada foi cercar vários terrenos com arame farpado, uma terra que se tornou inacessível. Uma lembrança constante da lambança de se fez ali. Nada que contribua para aquietar os ânimos, não poder caminhar em sua própria ilha com medo de voar pelos ares. Aqueles arames farpados e os avisos ali pendurados são mesmo um péssimo sinal. Entre as áreas permanentemente interditadas, nada mais, nada menos que a mais bela e frequentada (antes da guerra, claro!) praia do arquipélago, Gipsy Cove. Quase como se Maresias e Ipanema fossem, hoje, lugares proibidos, apenas observáveis de uma distância “segura”.
Aviso muito comum ao redor de Port Stanley, capital de Falkland (foto de Jeff Orlowski)
Um dos muitos campos minados pelos argentinos ao redor de Port Stanley, capital de Falkland (foto do Bart)
Pois é, mas como toda moeda tem duas faces, essa também tem seu lado bom. Gipsy Cove voltou a pertencer exclusivamente a seus primeiros donos, os pinguins de Magalhães. Muito leves para detonar as minas, eles continuam a frequentar o local, agora sem ter de dividir o espaço com banhistas durante o verão. Quando muito, tem de lidar com turistas a centenas de metros de distância com seus binóculos e máquinas fotográficas. Melhor para eles, pior para os Kelpers. Kelpers que ainda chamam seu pequeno arquipélago de Falkland e não de Malvinas. Que sua vontade seja respeitada. Em tempo, há uma resolução da ONU que diz que “Falkland” é o nome a ser usado em todos os seus documentos oficiais em todas as línguas, exceto em espanhol. Aí sim, o nome oficial é “Malvinas”. Solução salomônica! No nosso português, então, é mesmo Falkland...
Praia próxima a Port Stanley, capital de Falkland (foto de Dave)
A historia das Malvinas ou Falklands, é bastantes interessante, Port Stanley parece uma cidadezinha britânica do interior, até a cultura é totalmente Britânica. Na minha humilde opinião foi um erro a Argentina ter invadido as Falklands, na verdade a argentina parece reivindicar apenas sua posição geográfica, esquecendo a cultura da ilha que não tem nada a ver com a argentina... Cá entre nós brasileiros se formos avaliar apenas a posição geográfica como pretexto de soberania, tínhamos que invadir a Guiana Francesa e anexa-lá, já que está mais próxima do Brasil do que da França.
Resposta:
Olá Vinicius
Exatamente, vc definiu muito bem! Parece uma cidadezinha inglesa do interior. Muito gostoso passear por lá e o pub foi uma delícia!
Quanto a guerra, concordo com vc, é a posição geográfica que iniciou o sentimento de posse. Mas agora, já virou uma espécie de mania nacional, uma questão de orgulho. Desde cedo, são ensinados que as ilhas pertencem a eles. Difícil de mudar. De qualqeur maneira, como disse no meu texto, acho que eles tem de mudar de tática, conquistar os kelpers pelo coração e pelo bolso, e não com ameaças. Trabalho de longo prazo...
Já a Guiana Francesa, vc sabe que o Brasil, no passado, já pensou mesmo em invadir o vizinho? Só me faltava essa...
Um grande abraço
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