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franciele (06/07)
Olá, adorei as dicas. Queria saber como fizeram de Montego Bay para Cay...
Hellen Gomes de Almeida (04/07)
Ameii a materia, deste que vi numa imagem e no filme forrest Gump fiquei ...
INGRID (02/07)
Rodrigo, Estou "viajando" com vcs. Gosto de frio e de fotografar, mas me...
Marcelo Augusto (02/07)
Olá Ana e Rodrigo, tudo bem? Parabéns pelo Blog!! Meu nome é Marcelo, ...
Henrique Silva (02/07)
Paisagens lindas e maravilhosas que só este país, Brasil, tem. Simplesm...
A temida Ilha do Diabo, uma das Îles de Salut, na costa próxima à Kourou, na Guiana Francesa
Ilhas são sinônimo de isolamento. Muitas vezes associamos suas imagens à pequenos paraísos, longe dos problemas da civilização. Mas, outras vezes, esse mesmo isolamento tem o efeito contrário: ele pode ser usado como uma prisão, um exílio para pessoas expulsas por essa mesma civilização.
O Catamaran que nos levlou às Îles de Salut, na costa próxima à Kourou, na Guiana Francesa
Aqui na costa da Guiana Francesa temos um típico exemplo disso. São as "Îles du Salut", ou ilhas da salvação. Nos últimos 250 anos elas já cumpriram esses dois papéis, o de paraíso e o de inferno. Felizmente, hoje ela volta ao papel de paraíso.
Primeira visão sombria das Îles de Salut, na costa próxima à Kourou, na Guiana Francesa
Um pouco antes da Revolução Francesa, depois de levar uma sova da Inglaterra na Guerra dos Sete Anos e ser expulsa do Canadá e da Índia, a França resolveu investir com tudo na colonização da América do Sul. O plano era ambicioso. Desenvolver a isolada colônia da Guiana Francesa e daí, partir para o resto do continente. É claro que faltava combinar com portugueses e espanhóis. Mas, antes disso, era preciso também combinar com a mãe-natureza...
Examinando o mapa das Îles de Salut, na costa próxima à Kourou, na Guiana Francesa
De uma só vez, foram enviados cerca de 13 mil colonizadores para a região de Kourou. A mata e o clima tropical não os recebeu bem. Antes das pessoas conseguirem se instalar, um novo navio já estava no porto, para mais desembarques. O resultado foi uma tragédia. Fome e doenças atingiram em cheio os franceses. Pessoas morreram aos milhares. Dos 13 mil, sobraram apenas 4 mil, dois anos depois. Os sobreviventes, fugindo dos mosquitos que traziam malária e febre amarela, adotaram as Îles du Salut como refúgio. Mas de quinze quilômetros mar à dentro, elas estavam longe dos mosquitos. Ali, os colonizadores esperaram para ser repatriados. Dos 13 mil originais, sobraram pouco mais de duzentos para continuar os planos de colonização. Os outros, mortos ou enviados de volta à metrópole.
A única igreja nas Îles de Salut, na costa próxima à Kourou, na Guiana Francesa
A Guiana Francesa começava a ganhar fama de terra amaldiçoada. Pouco menos de 100 anos mais tarde, aproveitando esta fama, o governo resolveu transformá-la numa enorme colônia penal. Quase 80 mil presos, comuns e políticos, foram enviados para cá, em exílio eterno ou diretamente para os campos prisionais. O mais famoso deles, para onde íam os presos mais famosos ou perigosos, era nas îles du Salut. Afinal, quem conseguiria escapar de uma ilha cercada por um mar infestado de tubarões? A vida por aqui não era fácil. Dos 80 mil, menos de 13 mil voltaram para contar a história...
Cela do antigo presídio na Île Royale, nas Îles de Salut, na costa próxima à Kourou, na Guiana Francesa
O mais famoso dos detentos foi Alfred Dreyfus. Sua vida foi transformada em livro e em filme famoso, o que o tornou conhecido de quem vivia nas décadas de 40 e 50. Ele foi um militar francês acusado de alta traição em 1894. Na verdade, sua origem judaica o transformou num bode expiatório perfeito para a elite militar anti-semita francesa. Com documentos forjados, foi condenado à prisão perpétua na Ilha do Diabo, a mais temida das três Îles du Salut. Anos depois, o chefe da inteligência francesa descobriu o culpado verdadeiro de espionagem. Os militares resolveram tentar abafar o caso e enviaram o chefe da inteligência para o deserto da Tunísia. De nada adiantou: as informações vazaram, muita gente comprou a briga, inclusive intelectuais e a imprensa e o governo teve de voltar atrás e soltar o pobre Dreyfus, que passou quase cinco anos na solitária.
Capa famosa de jornal em que Emile Zola intercede por Dreyfus, preso nas Îles de Salut, na costa próxima à Kourou, na Guiana Francesa
Outro preso famoso, também com a vida transformada em livro e filme, Papillon, teve no sucesso de seu livro um dos motivos para se acabar com essas prisões vergonhosas, verdadeiros campos de concentração funcionando na América do Sul em plena década de 50.
Caminhando na Île Royale, a principal das Îles de Salut, na costa próxima à Kourou, na Guiana Francesa
Caminhando na Île Royale, a principal das Îles de Salut, na costa próxima à Kourou, na Guiana Francesa
Hoje, as belas ilhas são um dos destinos turísticos mais conhecidos da Guiana Francesa. Para lá fomos, eu e a Ana, partindo de Kourou num catamaran. Enfrentamos a chuva para prestar nossas homenagens a Dreyfus e Papillon. Passamos mais de uma hora no museu, antiga casa do diretor da prisão, lendo textos e vendo fotos antigas. Mais tarde, um passeio ao redor da ilha por suas antigas construções e fantasmas que parecem não sair de lá. Ao final da tarde, o tempo já estava bem melhor, mostrando o lado bonito dessa ilha tropical, quase sem praias, destino tão temido ao longo de um século.
A antiga casa do diretor da prisão, transformado em museu, nas Îles de Salut, na costa próxima à Kourou, na Guiana Francesa
Hoje, ao contrário, é um belo passeio, um mergulho na história e uma fonte de inspiração para pensamentos e devaneios. Muita gente passa a noite por lá, quem sabe para sonhar com outras épocas... Nós voltamos para Kourou, aonde tínhamos hotel e onde jantamos carne de canguru. Isso mesmo: canguru! Para sempre vamos associar Kourou com esses belos bichinhos saltadores de carne tão apetitosa...
Retorno confortável no catamaran das Îles de Salut, na costa próxima à Kourou, na Guiana Francesa
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