PÃ©tion-Ville

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FEV 2014

JAN 2014

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22/04/2013(0 comentários) Confira as fotos deste dia

Haiti, Port-au-Prince

As favelas de PÃ©tion-Ville, no subÃºrbio da capital Port-au-Prince, no Haiti

PÃ©tion-Ville era um nome praticamente desconhecido por nÃ³s atÃ© entrarmos no Ã´nibus de Santo Domingo a Port-au-Prince. Nosso plano inicial seria hospedar-nos no centro da capital, porÃ©m no caminho vÃ¡rios haitianos nos perguntavam onde ficarÃamos em PÃ©tion-Ville, bairro a pouco mais de 40 minutos do centro da cidade, ponto final do Ã´nibus. Assuntamos dali, perguntamos de lÃ¡ e descobrimos que este era o lugar ideal para usarmos como base. JÃ¡ era tarde e descer ao centro durante a noite nÃ£o seria uma tarefa fÃ¡cil. Guiados por um italiano, Ãºnico estrangeiro no Ã´nibus alÃ©m de nÃ³s, viemos parar no charmoso B&B Le Perroquet.

O hotel Le Perroquet, nossa casa em PÃ©tion-Ville, no subÃºrbio da capital Port-au-Prince, no Haiti

As calÃ§adas quebradas davam um ar de destruiÃ§Ã£o na cidade. Terremoto, pensamos, mas logo descobrimos que sÃ£o apenas obras de renovaÃ§Ã£o nas ruas. As calÃ§adas foram quebradas hoje e deixaram Lana surpresa ao acordar e descobrir repentinamente que nÃ£o tinha mais calÃ§ada em frente ao seu hotel. Lana, uma russa que viveu 15 anos em Bali, estÃ¡ hÃ¡ um ano no Haiti com o seu marido Erick. Erick Ã© cidadÃ£o americano e haitiano e depois de muitos anos longe do Haiti recebeu um chamado especial: o Haiti precisa de vocÃªs. Seu tio, antigo dono do Hotel Cubano, voou a Bali para convidÃ¡-los a participar deste perÃodo de mudanÃ§a no paÃs. Um momento em que o paÃs precisa de pessoas como eles, estudadas e esclarecidas que possam trazer novas ideias e uma energia renovadora para a reconstruÃ§Ã£o do Haiti.

Com a Lana e o Eric, donos do hotel Le Perroquet, em PÃ©tion-Ville, no subÃºrbio da capital Port-au-Prince, no Haiti

E assim foi, Lana e Erick se mudaram hÃ¡ um ano, assumiram o hotel que passou por reformas e aos poucos estÃ¡ se firmando como o ponto de encontro dos artistas e formadores de opiniÃ£o da regiÃ£o. Ã€s sextas-feiras o restaurante abre com pratos especiais da culinÃ¡ria thailandesa preparados por Lana e promove uma Jam Section com artistas vindos de todos os cantos da capital. NÃ³s chegamos no sÃ¡bado, perdemos o jazz, mas fomos recebidos com um delicioso rum punch e a simpatia de Lana e Erick que nÃ£o medem esforÃ§os para nos fazer sentir em casa. Conversamos por horas, nos inteirando de suas histÃ³rias e peripÃ©cias ao redor do mundo e principalmente da percepÃ§Ã£o que eles tÃªm das mudanÃ§as que estÃ£o ocorrendo no paÃs.

Com a Lana, no hotel Le Perroquet, em PÃ©tion-Ville, no subÃºrbio da capital Port-au-Prince, no Haiti

Um rÃ¡pido passeio por PÃ©tion-Ville e aos poucos conseguimos encontrar algumas pistas de por que Ã© considerado o bairro mais â€œchiqueâ€ de Porto-au-Prince. Em meio a desordem comum das ruas do Haiti nos deparamos com haitianos de classe mÃ©dia-alta indo Ã s compras, homens e mulheres indo e vindo dos seus trabalhos e casas em bons carros, bem vestidos e ornamentados, claramente pertencentes a outro mundo se comparados com a maioria esmagadora da populaÃ§Ã£o. LÃ¡ vivem diplomatas, estrangeiros que possuem negÃ³cios no paÃs e os haitianos de classe mais alta. Na capital haitiana os ricos vivem na parte alta da cidade, prÃ³ximo Ã s montanhas de Massif de la Selle, enquanto lÃ¡ embaixo, no centro, estÃ£o as Ã¡reas mais afetadas pela pobreza. Ainda assim eles nÃ£o escapam de vivenciar a pobreza do paÃs, que por nÃ£o ter para onde ir, simplesmente se espalhou por tudo.

Ãrea de mansÃµes em PÃ©tion-Ville, bairro mais chique da capital Port-au-Prince, no Haiti

Depois do terremoto as ruas e arredores de PÃ©tion-Ville foram tomadas por habitantes de toda a Port-au-Prince, assim como a RepÃºblica Dominicana, as ilhas caribenhas vizinhas, a AmÃ©rica Central, ColÃ´mbia e atÃ© o Acre! NÃ£o se esqueÃ§am que foram mais de 1 milhÃ£o de pessoas desabrigadas em 5 minutos de um terremoto que chegou a 7.0 pontos na escala Richter. Mesmo distante do centro da capital, PÃ©tion-Ville tambÃ©m sentiu o abalo sÃsmico de 12 de janeiro de 2010 que dentre outros edifÃcios, abalou as estruturas do hospital distrital. A sede do Clube de PÃ©tion-Ville foi transformada em um hospital provisÃ³rio e o campo de golfe foi transformado em uma grande cidade com barracas de campanha, abrigando de 50 a 80 mil haitianos desabrigados pelo terremoto.

Igreja na praÃ§a principal de PÃ©tion-Ville, bairro mais chique da capital Port-au-Prince, no Haiti

PÃ©tion-Ville, o subÃºrbio chique de Port-au-Prince, hoje se parece com bairros de classe-mÃ©dia de qualquer zona urbana brasileira. Uma igreja no centro, a praÃ§a com a estÃ¡tua de PÃ©tion, uma escola, floricultura, livraria, supermercados e bancos.

Uma das muitas escolas em PÃ©tion-Ville, bairro mais chique da capital Port-au-Prince, no Haiti

PÃ©tion para lÃ¡, PÃ©tion para cÃ¡... Afinal, quem foi esse tal PÃ©tion? Alexandre SabÃ©s PÃ©tion (1770-1818) foi um dos quatro grandes libertadores do paÃs, um dos homens que sonhou com um Haiti melhor, livre dos carrascos franceses e com oportunidades verdadeiras para a populaÃ§Ã£o mulata e os escravos. ApÃ³s a libertaÃ§Ã£o do domÃnio francÃªs sobre o territÃ³rio e da criaÃ§Ã£o do novo estado Haiti, "terra de montanhas", as disputas internas pelo poder cresceram e o paÃs acabou dividido entre os negros do norte e os mulatos do sul. Henri Christophe se autonomeou Rei do Reino do Haiti, criando uma autocracia sem limites no norte do paÃs. No sul, PÃ©tion seguiu com seus ideais democrÃ¡ticos e tornou-se presidente da RepÃºblica do Haiti.

Principal praÃ§a de PÃ©tion-Ville, bairro mais chique da capital Port-au-Prince, no Haiti

Anos se passaram e os sonhos de PÃ©tion parecem ter se realizado, a democracia se instalou e junto dela a dura realidade do nosso mundo moderno, trazendo consigo as suas discrepÃ¢ncias econÃ´micas e sociais. Nas esquinas dezenas de motociclistas esperam algum cliente para oferecer uma corrida. Mulheres sobem e descem ladeiras equilibrando na cabeÃ§a cestos cheios de frutas, bebidas, roupas ou o que vocÃª imaginar. Elas conversam, vendem seus produtos, desviam das motos e ainda mantÃ©m os balaios em pÃ© com uma elegÃ¢ncia sem igual.

Muito equilÃbrio nas ruas de PÃ©tion-Ville, bairro mais chique da capital Port-au-Prince, no Haiti

Ao redor da praÃ§a uma infinidade de obras de arte espalhadas pelas paredes. O Haiti Ã© reconhecido por sua arte, notadamente a pintura, escultura e a mÃºsica. Eu me apaixonei pelos traÃ§os e cores, temas e a expressÃ£o da arte haitiana sem precisar entrar em nenhum museu ou galeria. Elementos africanos, europeus e tainos, indÃgenas nativos de Hispaniola, se mesclam em forma de contos, fÃ¡bulas e signos facilmente compreendidos por uma populaÃ§Ã£o religiosa e iletrada.

Arte nas ruas de PÃ©tion-Ville, bairro mais chique de Port-au-Prince, no Haiti

A arte de rua tem uma qualidade exponencial e fosse em qualquer paÃs desenvolvido estariam vÃ¡rios destes Ã³leos sobre tinta dentro de grandes museus de obras contemporÃ¢neas ou folclÃ³ricas-tradicionais. Eu raramente me rendo Ã tentaÃ§Ã£o de comprar alguma lembranÃ§a dos lugares por onde estamos passando, mas este quadro foi paixÃ£o Ã primeira vista. Foram dois dias pensando atÃ© decidir carregÃ¡-lo por mais 300 dias para o Brasil, mas serÃ¡ uma bela lembranÃ§a da nossa passagem pelo Haiti.

Feliz apÃ³s a compra de um quadro em PÃ©tion-Ville, no subÃºrbio da capital Port-au-Prince, no Haiti

Na floricultura da praÃ§a os jovens nÃ£o medem esforÃ§os para se comunicar, do creole para o francÃªs e algumas palavras de inglÃªs e logo estamos nos entendendo. O meu francÃªs Ã© praticamente zero, algumas palavras, frases e um sorriso no rosto me ajudam a comeÃ§ar a conversa. Flores de bananeira? Eles nÃ£o conseguiam entender se era eu que nÃ£o sabia o que estava falando ou se era isso mesmo que eu queria. Sim, flores de bananeira! A Lana me contou uma receita balinesa com essa flor ignorada por (quase) todas as culinÃ¡rias e segundo ela muito saborosa. Encomendei as flores, prometi ensinar-lhes a receita e dois dias depois lÃ¡ estÃ¡vamos nÃ³s trocando flores e receitas, espero que fique boa!

Socializando em floricultura em PÃ©tion-Ville, bairro mais chique da capital Port-au-Prince, no Haiti

Chegamos ao Haiti e mesmo que distantes de suas maiores favelas e pontos crÃticos, jÃ¡ podemos sentir o paÃs, entender algumas de suas dinÃ¢micas e perceber que existe um clima de mudanÃ§a no ar.