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Epicentro: Port-au-Prince - Blog da Ana - 1000 dias

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Epicentro: Port-au-Prince

Haiti, Port-au-Prince

Praça central de Port-au-Prince, capital do Haiti

Praça central de Port-au-Prince, capital do Haiti


Port-au-Prince, a capital haitiana, é um dos últimos lugares que qualquer pessoa pensaria em fazer turismo nos tempos atuais. Primeiro por que praticamente tudo (do pouco) que tinha para ser conhecido no centro da cidade foi destruído no terremoto de 12 de Janeiro de 2010. Segundo por que após o terremoto, o país que já era assolado pela pobreza, passou por ondas de violência e doenças resultantes da catástrofe. Assaltos e sequestros, inclusive de membros das organizações religiosas e ONGs que estavam aqui para ajudar o país, se espalharam pela capital, afinal as prisões foram destruídas e todos os presos voltaram à ativa. Soldados de todos os cantos do mundo vieram para o Haiti e ao que tudo indica foram os nepaleses que trouxeram para a ilha um tipo de cólera que resultou em surto, variedade anteriormente inexistente no país. Terceiro por que Port-au-Prince é uma cidade grande de um país subdesenvolvido e, mesmo se não tivesse passado pelo terremoto, já não teria tantas atrações a oferecer, ela seria o ponto de chegada e partida de uma viagem pelo Haiti, mas não o destino por si só.

Comida preparada e vendida nas ruas centrais de Port-au-Prince, capital do Haiti

Comida preparada e vendida nas ruas centrais de Port-au-Prince, capital do Haiti


É, não somos turistas muito tradicionais mesmo. A curiosidade de ver como o epicentro de uma tragédia está se levantando, foi um dos motivos que nos fez decidir passar ao menos um dia explorando o centro de Port-au-Prince. Subimos em uma moto-táxi em Pétion-Ville rumo à parte baixa da cidade. Jackson não hesitou em colocar nós dois na garupa e, com um ótimo equilíbrio nos guiar pelas ladeiras que nos levariam até o centro. No caminho o pneu furou, paramos para consertar e aproveitamos para conhecer as vizinhanças intermediárias. Não importa por onde andamos sempre vemos muitos escolares, bom sinal para o país.

Nossa moto-taxi furou o pneu no caminho para o centro de Port-au-Prince, capital do Haiti

Nossa moto-taxi furou o pneu no caminho para o centro de Port-au-Prince, capital do Haiti


A região central foi a mais destruída pelo terremoto e não tínhamos ideia do que iríamos encontrar por lá. Sabíamos que havia a praça principal, Champs de Mars, o antigo palácio da presidência, a igreja onde faleceu a Irmã Zilda Arns e um hotel bem tradicional, o Hotel Oloffson. Nós esperávamos ver escombros, ruas e prédios destruídos, talvez meio abandonados, e ao invés disso encontramos uma cidade movimentada, ruas e praças lotadas com centenas de estudantes andando de lá para cá.

O tradicional hotel Oloffson, no centro de Port-au-Prince, capital do Haiti

O tradicional hotel Oloffson, no centro de Port-au-Prince, capital do Haiti


Os escombros já foram retirados, o terreno onde estava o palácio da presidência está fechado por telas. Espiamos pelos buraquinhos e vimos que o prédio já foi todo retirado, os gramados estão verdinhos e uma casa e contêineres estão substituindo os escritórios. Se não soubesse do terremoto e ninguém me contasse, eu não poderia dizer que algo desta magnitude aconteceu. Talvez aos que já conhecessem a cidade e soubessem dos grandes edifícios, mas não para nós, que o máximo que conseguimos achar foram alguns prédios rachados, como os edifícios mais antigos condenados em São Paulo ou no Rio.

Monumento no centro de Port-au-Prince, capital do Haiti

Monumento no centro de Port-au-Prince, capital do Haiti


Trabalhadores e pessoas curiosas olhavam esses dois branquelos “gringos” andando pela praça, realmente devemos ser uma cena rara por essas bandas. Quase não encontramos brancos na cidade, muito menos turistas. A maioria dos brancos que estão aqui trabalham para alguma organização social ou religiosa, ou são militares trabalhando na Força de Paz da ONU. Qualquer um que viesse falar conosco nos perguntaria primeiro “com que organização vocês estão aqui no Haiti?”, e quando respondíamos que éramos meros turistas, a cara de espanto vinha misturada com um sorriso e acompanhada de um Bienvenue au Haiti!

Praça central de Port-au-Prince, capital do Haiti

Praça central de Port-au-Prince, capital do Haiti


Desde o início da viagem eu tinha em mente que quando chegasse aqui gostaria de ter ao menos uma semana para trabalhar como voluntária em alguma organização, escola, orfanato, hospital, o que fosse. Pesquisei e conversei com muitas pessoas que já haviam tido algum contato com o Haiti, mas nunca tinha conseguido algo que parecesse acessível, certamente eu não estava sabendo aonde procurar. Foi quando conheci um brasileiro, hospedado na mesma pousada que nós na cidade de Boston, que havia sido voluntário no Haiti logo após o terremoto. Ele foi o primeiro a me dar uma opinião bem realista de onde eu poderia estar me metendo. Após os seus dias no Haiti ele passou 6 meses sem dormir direito, deprimido e com pesadelos sobre tudo o que presenciou no pós-terremoto. “Se você nunca trabalhou com situações extremas e não está psicologicamente preparada para isso, pense bem se pode encarar um trabalho como este”. Eu levei em consideração o que ele falou, mas a princípio eu continuava com a ideia do voluntariado. Aos poucos eu fui absorvendo o que ele disse e pesando também com as questões práticas da viagem: tínhamos pouco tempo, o Rodrigo não estava com a mesma vontade, ou seja, teríamos que nos separar e ficaríamos com tempos diferentes de viagem, além de, de fato, eu não estar preparada para me voluntariar em uma crise humanitária. Assim decidi que viria conhecer o país primeiro, fazer contatos, analisar a situação e ver como eu me sentiria, para então voltar (ou não) para fazer um trabalho mais efetivo, tanto para a comunidade, quanto para mim.

Estudantes caminham no centro de Port-au-Prince, capital do Haiti

Estudantes caminham no centro de Port-au-Prince, capital do Haiti


Viemos ao Haiti preparados para ver o pior, afinal tudo o que escutamos e vemos na mídia são histórias arrasadoras e uma miséria incurável. Quando chegamos vimos que a miséria está lá, sem dúvida, com cicatrizes ainda maiores deixadas pelo terremoto de 2010, como milhares de desabrigados, centenas de crianças órfãs e desempregados perambulando pelas ruas. As partes mais pobres da cidade são Citté Soleil e Belair, as duas grandes favelas onde se concentram as desgraças do país e os esforços do exército brasileiro, que tem bases fixas dentro das duas áreas. Nós cruzamos Belair rapidinho em cima da nossa moto-táxi. Mesmo Jackson não gosta de passar por lá, chegando perto só nos avisou, “Guardem tudo, se segurem que vou acelerar, essa área é muito perigosa!”. Ali vimos uma certa confusão de um povo subindo um alambrado e tentando invadir um terreno cheio de carros sucateados. Parece que naquele dia iam distribuir peças ou carros e aparentemente o pessoal estava bem impaciente. Lá sim vemos o favelão que imaginamos que dominava toda Port-au-Prince. Casas provisórias de campanha que se tornaram permanentes. Estes acampamentos que ainda abrigam mais de 200 mil pessoas, não estariam tão lotados não fosse a migração de haitianos de outras áreas do país que vieram para a capital tentar pegar uma carona nas doações e assentamentos que o governo e a comunidade internacional está fazendo. Ou seja... nada está tão ruim que não possa piorar.

Monumento ao heroi da independência na praça central de Port-au-Prince, capital do Haiti

Monumento ao heroi da independência na praça central de Port-au-Prince, capital do Haiti


Ao mesmo tempo essa miséria não é muito diferente da que conhecemos nos tempos paupérrimos do Brasil. Falo da miséria verdadeira, não das nossas favelas atuais que tem luz, gatonet e 2 televisores em cada casa. Se você já entrou em uma favela sabe do que estou falando, falta de saneamento básico e energia elétrica, lixões entre as casas, crianças brincando no lixo sem roupa, sem ter água para beber e qualquer comida para comer. Não andei pelas favelas daqui, mas passeio no meio dela em cima de uma moto e posso dizer que reconheci...

Comida preparada e vendida nas ruas centrais de Port-au-Prince, capital do Haiti

Comida preparada e vendida nas ruas centrais de Port-au-Prince, capital do Haiti


Seguimos cruzando caminhões da ONU, comendo poeira e costurando entre outras motos, carros e tap-taps. Nosso motorista era bom! Mais meia hora na garupa e chegamos ao Campo Charlie, principal base das tropas brasileiras aqui no Haiti. Quer melhor atividade turística em Port-au-Prince que conhecer o trabalho que o Brasil está desenvolvendo aqui? Agenda feita! Logo teremos uma visita à base do BRAENGCOY, espero vocês.

Haiti, Port-au-Prince, Capital, Terremoto, Citté Soleil, Belair

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Pétion-Ville

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Brasil no Haiti

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Visita à MINUSTAH

Comentários (1)

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  • 02/02/2020 | 22:00 por Samuel Baker mororo aragão

    ESTAMOS COM MUITA SAUDADE DOS 1.000 DIAS PELA AMÉRICA!!!!

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