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Blog do Rodrigo - 1000 dias

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Remando no Gelo

Antártida, Kinnes Cove

Caiaque em meio ao mar semi-congelado de Kinnes Cove, na Antártida

Caiaque em meio ao mar semi-congelado de Kinnes Cove, na Antártida


Finalmente deixamos as ilhas do arquipélago de South Shetland para trás e rumamos para a península antártica, a pouco mais de 100 quilômetros de distância. Enfim hoje, dia 20 de Novembro, seria o grande dia de pisarmos em solo antártico pela primeira vez. Os passageiros já estavam ansiosos e não paravam de atormentar a Sheli, nossa líder de expedição, se esse momento não chegaria. A Sheli, conjuntamente com o capitão do barco, tem de administrar uma complexa agenda que leva em conta as condições climáticas e o itinerário de outros navios turísticos que, por ventura, estejam na área. Dois navios não devem estar no mesmo ponto de desembarque ao mesmo tempo. Essas áreas turísticas da Antártida tem um limite de visitantes diários estipulado por cientistas, burocratas e operadoras de turismo. Tanto que, algumas vezes, quando os navios são de grande porte, nem todos os passageiros podem descer. Essa é uma das vantagens de se viajar em um navio como o Sea Spirit que tem capacidade para apenas 100 passageiros. Nessa nossa viagem, que abre a temporada, somos menos de 70.

Iceberg flutua em Kinnes Cove, na Antártida

Iceberg flutua em Kinnes Cove, na Antártida


Kinnes Cove, na Antártida, local do nosso caiaque

Kinnes Cove, na Antártida, local do nosso caiaque


Um iceberg flutua em Kinnes Cove, na Antártida (foto de Steve Denver)

Um iceberg flutua em Kinnes Cove, na Antártida (foto de Steve Denver)


Enfim, para os guias e tripulantes do nosso navio, tanto faz desembarcar em uma ilha ou no próprio continente. O cenário é muito parecido, assim como a flora e a fauna. Para eles que já estiveram aqui outras vezes, realmente não faz diferença. Mas para nós, marinheiros de primeira viagem, principalmente nesses mares gelados do sul, é questão de honra botar os pés no continente. E ontem de noite veio a boa notícia: desembarcaríamos hoje na Antártida, em um lugar chamado Brown Bluff, na pontinha da península. Poderíamos dormir tranquilos. Tranquilos e felizes!

Icebergs e o Sea Spirit flutuam Kinnes Cove, na Antártida, local do nosso caiaque

Icebergs e o Sea Spirit flutuam Kinnes Cove, na Antártida, local do nosso caiaque


De volta à água, agora para remar entre o gelo de Kinnes Cove, na Antártida

De volta à água, agora para remar entre o gelo de Kinnes Cove, na Antártida


Um grande iceberg flutua em Kinnes Cove, na Antártida

Um grande iceberg flutua em Kinnes Cove, na Antártida


E assim acordamos todos ansiosos hoje. Pelo menos até checar os céus e verificar que estava tudo bem. Então, nada mais nos impediria de colocar nossos pés na Antártida! Mas ainda não seria pela manhã. Ainda havia uma última parada programada antes do continente. Faríamos um tour de zodiacs em uma pequena baía chamada Kinnes Cove que fica em uma ilha a poucos quilômetros da ponta de península. Quando digo “faríamos”, na verdade estou me referindo à maioria dos passageiros do Sea Spirit, mas não a nós, o pequeno grupo do caiaque. Para nós, a aventura seria maior. Teríamos mais uma chance de remar nossos caiaques. Mas, diferente das outras vezes, agora remaríamos em águas realmente congeladas. Kinnes Cove, mesmo nessa época do ano, tem muito gelo flutuante. Uma chance imperdível de fazer caiaque entre icebergs, água congelada e plataformas de gelo frequentadas por pinguins e focas. Então, a Antártida que esperasse mais algumas horas! Tínhamos mais o que fazer!

Um iceberg, gelo fora e dentro d'água, em Kinnes Cove, na Antártida

Um iceberg, gelo fora e dentro d'água, em Kinnes Cove, na Antártida


Remando nos mares gelados da Antártida, Kinnes Cove

Remando nos mares gelados da Antártida, Kinnes Cove


A Ana rema seu caiaque na gelada Kinnes Cove, na Antártida

A Ana rema seu caiaque na gelada Kinnes Cove, na Antártida


Caiaques na água, lá fomos nós levados por um zodiac rumo ao ponto de embarque em nossos pequenos barcos. Ainda no zodiac, já ficamos maravilhados com o cenários a nossa volta. Icebergs de todas as formas e tamanhos, alguns com o gelo bem azul. Sinal da idade que o gelo foi formado, alguns milênios de anos atrás! Tem de admirar e respeitar! Tiramos nossas fotos, mas queríamos mesmo era remar entre o gelo! E não demorou muito e tivemos nossa chance.

A Ana rema seu caiaque na gelada Kinnes Cove, na Antártida

A Ana rema seu caiaque na gelada Kinnes Cove, na Antártida


Fazendo caiaque em Kinnes Cove, na Antártida

Fazendo caiaque em Kinnes Cove, na Antártida


Nosso grupo rema no gelo de Kinnes Cove, na Antártida

Nosso grupo rema no gelo de Kinnes Cove, na Antártida


Foi o mais espetacular caiaque que já fizemos nessa viagem. Na verdade, não remamos apenas entre o gelo, mas também sobre ele! Foi mesmo incrível. Os blocos de gelo vão se quebrando e batendo uns nos outros. As vezes o mar se fecha, outras ele se abre à nossa frente. É um verdadeiro labirinto de canais de água em constante transformação e mutação. Nosso grupo tentava achar seu caminho em meio a este caos, principalmente quando tinha um objetivo mais a frente. Podia seu um bloco de gelo mais azul, um grupo de pinguins ou alguma foca solitária. Algumas vezes nos separávamos, cada um por um lado do bloco de gelo. Depois, mais a frente, nos juntávamos novamente. Ou então, alguém dava com os burros n’água (ou no gelo!) e tinha de dar meia volta. Enfim, diversão pura! Sempre acompanhados pelos olhos atentos da Val, nossa guia de caiaque, ou pelo guia que dirigia o zodiac. Com o barco a motor, algumas vezes ele podia passar sobre o gelo ou abrir caminho entre ele para fazer uma trilha para nós.

A Ana enfrenta o gelo enquanto o Rodrigo posa para uma foto em Kinnes Cove, na Antártida

A Ana enfrenta o gelo enquanto o Rodrigo posa para uma foto em Kinnes Cove, na Antártida


Cada vez mais gelo em nosso caminho em Kinnes Cove, na Antártida

Cada vez mais gelo em nosso caminho em Kinnes Cove, na Antártida


A Ana nas águas geladas de Kinnes Cove, na Antártida (foto de Vladimir Seliverstov)

A Ana nas águas geladas de Kinnes Cove, na Antártida (foto de Vladimir Seliverstov)


Realmente, foi uma grande experiência. Com um pouco de força e jeito, é mesmo possível passar por blocos de gelo menores. Outros, maiores, não tem jeito, eles fecham mesmo nosso caminho. E aí, a volta para contorna-lo pode ser enorme. Por exemplo, a gente tentou se aproximar de um bloco de gelo incrivelmente azul. Conseguimos chegar até poucas dezenas de metros de distância. Mais que isso, pelejamos, pelejamos, mas o mar e o gelo nos venceram. Quando finalmente encontramos um caminho para dar a volta num bloco mais enjoado, o tal gelo azul já ia longe. Felizmente, ele não era a única coisa que queríamos ver de perto...

Muito gelo na água nos impede de chegar mais perto do bloco de gelo azul em Kinnes Cove, na Antártida

Muito gelo na água nos impede de chegar mais perto do bloco de gelo azul em Kinnes Cove, na Antártida


Remando rumo ao bloco de gelo azul em Kinnes Cove, na Antártida

Remando rumo ao bloco de gelo azul em Kinnes Cove, na Antártida


Bloco de gelo azul em Kinnes Cove, na Antártida (foto de Alison Metherell)

Bloco de gelo azul em Kinnes Cove, na Antártida (foto de Alison Metherell)


Não, tivemos a chance de ver coisas ainda mais interessantes. A começar por pinguins adelie, aquele menorzinho e com a cara toda preta. Eles adoram ficar nessas plataformas de gelo flutuantes. E poder chegar bem perto deles, a gente no caiaque e eles no gelo, foi muito legal! Eles nos olhavam bem curiosos. Estão mais acostumados com humanos em terra firme, mas não aqui, no meio do mar gelado. E a sensação que tivemos foi de estar vendo eles no seu ambiente natural. Em terra firme, são meio desengonçados. Mas aqui não, desengonçados somos nós!

Pinguins adelie em bloco de gelo que flutua em Kinnes Cove, na Antártida

Pinguins adelie em bloco de gelo que flutua em Kinnes Cove, na Antártida


Encontro com pinguins adelie em Kinnes Cove, na Antártida

Encontro com pinguins adelie em Kinnes Cove, na Antártida


Pinguins adelie em bloco de gelo que flutua em Kinnes Cove, na Antártida

Pinguins adelie em bloco de gelo que flutua em Kinnes Cove, na Antártida


Alguns deles posavam para fotos, outros se aproximavam desses estranhos barcos que passeavam entre o gelo, outros não davam bola para nós. Tivemos a chance também de vê-los mergulhar na água para nadar entre um bloco e outro. Essa água absolutamente gelada e eles a fazem parecer uma banheira. Isso sim é adaptação! Depois, para subir em outro bloco de gelo, eles mergulham, aceleram, ganham impulso e pulam de dentro da água para o alto da plataforma. Um show de habilidade!

Pinguins adelie sobre iceberg em Kinnes Cove, na Antártida

Pinguins adelie sobre iceberg em Kinnes Cove, na Antártida


O Rodrigo se aproxima de pinguins adelie durante caiaque em Kinnes Cove, na Antártida (foto de Vladimir Seliverstov)

O Rodrigo se aproxima de pinguins adelie durante caiaque em Kinnes Cove, na Antártida (foto de Vladimir Seliverstov)


Um pinguim adelie nada nas águas geladas de Kinnes Cove, na Antártida

Um pinguim adelie nada nas águas geladas de Kinnes Cove, na Antártida


Outro grande momento do caiaque dessa manhã foi quando avistamos, ao longe, uma foca crabeater. Ela descansava tranquilamente em um bloco de gelo em formato de sofá. Foi uma corrida e uma peripécia para chegar até lá, cada remador buscando o melhor caminho. Desde a Geórgia do Sul que eu e a Ana temos remado em caiaques simples, muito mais ágeis que os duplos. Além disso, eles nos dão a chance de fotografar e filmar um ao outro. Além da guia Val, nós somos os únicos do grupo a remar nesse tipo do caiaque. As outras oito pessoas preferiram se manter nos caiaques duplos.

Encontrando uma foca crabeater sobre bloco de gelo em Kinnes Cove, na Antártida

Encontrando uma foca crabeater sobre bloco de gelo em Kinnes Cove, na Antártida


Felicidade ao encontrar uma foca crabeater sobre bloco de gelo em Kinnes Cove, na Antártida

Felicidade ao encontrar uma foca crabeater sobre bloco de gelo em Kinnes Cove, na Antártida


Congestionamento para chegar perto da foca crabeater em Kines Cove, na Antártida

Congestionamento para chegar perto da foca crabeater em Kines Cove, na Antártida


Assim, mais leve e escolhendo o melhor caminho, fui o primeiro a chegar perto da foca dorminhoca. A Ana, um pouco mais atrás, tirou umas fotos comigo perto da foca. Depois, era a vez de dar espaço para as outras pessoas. Nos estreitos canais e piscinas de água que se formam entre os blocos de gelo, não é muito fácil manobrar. Durante algum tempo, tivemos até um pequeno congestionamento. Mas, empurra o gelo daqui, rema dali, consegui sair e dar espaço para os próximos da fila. A foca, nessa confusão toda, nos olhava, pensava um pouco e voltava ao seu descanso.

A Ana se aproxima e fotografa a foca crabeater em Kinnes Cove, na Antártida (foto de Vladimir Seliverstov)

A Ana se aproxima e fotografa a foca crabeater em Kinnes Cove, na Antártida (foto de Vladimir Seliverstov)


Uma foca crabeater sobre um bloco de gelo nos observa em Kinnes Cove, na Antártida

Uma foca crabeater sobre um bloco de gelo nos observa em Kinnes Cove, na Antártida


Uma foca crabeater descansa sobre um bloco de gelo em Kinnes Cove, na Antártida

Uma foca crabeater descansa sobre um bloco de gelo em Kinnes Cove, na Antártida


Por fim, chegou a vez da Ana e ela se aproximou e tirou as mais bela fotos dessa foca crabeater. O problema é que ela se aproximou demais. Pelo menos, no entendimento da nossa guia, que ficava gritando para a Ana se afastar. Na aflição e luta para fazer isso, dar marcha ré num mar com tanto gelo, ela acabou se descuidando da nossa Canon que deu um mergulho na água gelada. Gelada e salgada. Sal é o maior veneno possível para aparelhos eletrônicos. Enfim, pobre canon, não resistiu...

A Ana se aproxima e fotografa a foca crabeater em Kinnes Cove, na Antártida (foto de Vladimir Seliverstov)

A Ana se aproxima e fotografa a foca crabeater em Kinnes Cove, na Antártida (foto de Vladimir Seliverstov)


Uma foca crabeater sobre um bloco de gelo em Kinnes Cove, na Antártida

Uma foca crabeater sobre um bloco de gelo em Kinnes Cove, na Antártida


Uma foca crabeater sobre um bloco de gelo em Kinnes Cove, na Antártida

Uma foca crabeater sobre um bloco de gelo em Kinnes Cove, na Antártida


A câmera estava amarrada no pescoço da Ana, então ela não foi para o fundo. Ao voltarmos ao navio, tentamos uma operação de salvamento e ela até deu sinais de vida. Mas os sensores estavam irremediavelmente danificados. Felizmente, o chip não foi afetado e conseguimos recuperar todas as fotos que lá estavam, inclusive as últimas, que ela tinha tirado da foca crabeater. Enfim, as fotos desse post são as últimas da nossa querida canon. Ao menos, podemos pensar que ela teve um fim bem glorioso, nas águas geladas da Antártida!

Pinguins adelie observam nossos caiaques em Kinnes Cove, na Antártida

Pinguins adelie observam nossos caiaques em Kinnes Cove, na Antártida


Remando, filmando e fotografando em Kinnes Cove, na Antártida

Remando, filmando e fotografando em Kinnes Cove, na Antártida


Quanto a nós, depois do fabuloso encontro com a foca, remamos para fora do labirinto de gelo e voltamos para o zodiac. De lá para o Sea Spirit e, com ele, para a Antártida, a poucos quilômetros dali. Chegava a hora de ver de perto o continente branco, mas esse último caiaque entre gelo, pinguins e foca ficará, para sempre, em nossa memória. E nas fotos da canon também!

Nosso grupo tenta achar um caminho em meio ao gelo nas águas de Kinnes Cove, na Antártida

Nosso grupo tenta achar um caminho em meio ao gelo nas águas de Kinnes Cove, na Antártida


Um pinguim adelie nos observa em Kinnes Cove, na Antártida

Um pinguim adelie nos observa em Kinnes Cove, na Antártida

Antártida, Kinnes Cove, Bichos, caiaque, Pinguim, foca

Veja todas as fotos do dia!

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