0 Chaltén, Fitz Roy, Los Glaciares e o Campo de Gelo Sul - Blog do Rodrigo - 1000 dias

Chaltén, Fitz Roy, Los Glaciares e o Campo de Gelo Sul - Blog do Rodrigo - 1000 dias

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Chaltén, Fitz Roy, Los Glaciares e o Campo de Gelo Sul

Argentina, El Chaltén

A linda paisagem ao redor de El Chaltén, ao lado do Parque Nacional Los Glaciares, na Argentina

A linda paisagem ao redor de El Chaltén, ao lado do Parque Nacional Los Glaciares, na Argentina


A pequena cidade argentina de El Chaltén é o sonho de consumo de milhares de backpackers e montanhistas do mundo todo. Com menos de 2 mil habitantes, ela não poderia estar melhor localizada e isso é a sua maior atração. El Chaltén está em uma das entradas do Parque Nacional Los Glaciares, mundialmente famoso por suas belezas naturais. É também daí que partem as trilhas para duas das montanhas mais cênicas e técnicas do mundo, o Fitz Roy e o Cerro Torre. Com poucas horas de caminhada, chega-se a rios encachoeirados, lagos glaciais e geleiras que dão vazão ao segundo maior campo de gelo do mundo fora das regiões polares. Enfim, com tantos atrativos, só é de se estranhar que essa área não tenha sido ocupada antes. El Chaltén só foi fundada em 1985.

A linda paisagem ao redor de El Chaltén, ao lado do Parque Nacional Los Glaciares, na Argentina

A linda paisagem ao redor de El Chaltén, ao lado do Parque Nacional Los Glaciares, na Argentina


Observando a cidade de El Chaltén, ao lado do Parque Nacional Los Glaciares, na Argentina

Observando a cidade de El Chaltén, ao lado do Parque Nacional Los Glaciares, na Argentina


Na verdade, a criação da cidade não tem a ver com a beleza de sua localização, mas se insere na disputa fronteiriça entre Argentina e Chile. As questões fronteiriças entre os dois países só foi definitivamente resolvida nos últimos anos do século passado e em 1985 o governo da província de Santa Cruz, localizada no sul da patagônia argentina, resolveu criar um novo povoamento em uma área que era então disputada com o país vizinho. Nascia El Chaltén, completamente isolada de tudo e de todos. Quase 30 anos mais tarde e essa sensação de isolamento continua, a cidade muito mais integrada à natureza exuberante ao seu redor do que ao resto da civilização. Mas o crescente número de turistas fez crescer a quantidade de pousadas, assim como conexões mais confiáveis de internet e até mesmo bancos 24 horas. O resto do mundo já não está tão longe...

Um dos maiores hotéis de El Chaltén, ao lado do Parque Nacional Los Glaciares, na Argentina

Um dos maiores hotéis de El Chaltén, ao lado do Parque Nacional Los Glaciares, na Argentina


Hotel no estilo alpino em El Chaltén, ao lado do Parque Nacional Los Glaciares, na Argentina

Hotel no estilo alpino em El Chaltén, ao lado do Parque Nacional Los Glaciares, na Argentina


Hoje já não há mais disputa fronteiriça, apenas disputa por vagas nos hotéis, pousadas e campings da cidade, principalmente nos meses de verão. A gente, como sempre sem reservas, teve um certo trabalho em encontrar lugar, mas ao final deu tudo certo. Viemos para passar vários dias e tivemos até de trocar de pousada no final, justamente por problema de espaço. Todos os que chegam estão buscando as atrações do Parque Los Glaciares, fora da cidade, mas aqui é a base da maioria das pessoas. Passamos boa parte das horas do dia caminhando no mato ou em alguma excursão, mas no final de tarde boa parte das pessoas está de volta, as ruas e restaurantes da cidade ganham vida e a noite continua em um punhado de bares mais animados. No dia seguinte, cedo, pé na trilha novamente!

Fim de tarde em El Chaltén, ao lado do Parque Nacional Los Glaciares, na Argentina

Fim de tarde em El Chaltén, ao lado do Parque Nacional Los Glaciares, na Argentina


Depois de caminhada, chegando de volta à El Chaltén, ao lado do Parque Nacional Los Glaciares, na Argentina

Depois de caminhada, chegando de volta à El Chaltén, ao lado do Parque Nacional Los Glaciares, na Argentina


O público, de maneira geral, é jovem como a cidade. Gente bonita e saudável, amante da natureza, de trekking, das montanhas. Esse espírito explorador é contagiante e é a cara de El Chaltén. Nas ruas, ouve-se muitas línguas, prova inconteste da vocação cosmopolita da cidade. É fácil conhecer pessoas e fazer amigos nas pousadas e bares. Todos os que estão aqui tem muita coisa em comum e isso puxa assunto.

A simpática cidade de El Chaltén, ao lado do Parque Nacional Los Glaciares, na Argentina

A simpática cidade de El Chaltén, ao lado do Parque Nacional Los Glaciares, na Argentina


Rua de El Chaltén, ao lado do Parque Nacional Los Glaciares, na Argentina

Rua de El Chaltén, ao lado do Parque Nacional Los Glaciares, na Argentina


Nossos dias por aqui seguiram exatamente esse ritmo. Caminhadas longas pela região durante o dia e comida em alguma mesa na calçada aproveitando o calorzinho de fim de tarde. Quando voltávamos das trilhas, era uma alegria quando víamos os telhados coloridos de Chaltén no fundo do vale. Significava que estávamos pertos, de comida e de cerveja. Sentados, logo apareciam os amigos, novos ou antigos. Reencontramos por aqui, numa feliz coincidência, o Marco e a Tina, o casal suíço que conhecemos no Panamá e que dividiu o contêiner da Fiona conosco, na travessia para a Colômbia (link da história aqui). Nossa última vez juntos tinha sido na península de La Guajíra, extremo norte da América do Sul (reveja esse reencontro aqui). Depois, ainda em contato, quase nos vimos no Perú. Mas o destino quis que fosse no sul da patagônia que voltássemos a nos ver. Muito joia!

O feliz reencontro com a Tina e o Marco, o casal suiço que conhecemos no Panamá e Colômbia, em El Chaltén, na patagônia argentina

O feliz reencontro com a Tina e o Marco, o casal suiço que conhecemos no Panamá e Colômbia, em El Chaltén, na patagônia argentina


Encontro com brasileiros (pai e filho) em El Chaltén, ao lado do Parque Nacional Los Glaciares, na Argentina

Encontro com brasileiros (pai e filho) em El Chaltén, ao lado do Parque Nacional Los Glaciares, na Argentina


Também fizemos amigos novos, como uma simpática e energética dupla de brasileiros, pai e filho, viajando e caminhando juntos pelas lindas trilhas de Chaltén. E também foi em um desses caminhos que encontramos pela primeira vez, ao menos ao vivo, o simpaticíssimo casal dos Nerds Viajantes, blogueiros de Belo Horizonte. A gente se conhecia pela internet e quase havíamos nos encontrado no Parque de Grand Teton, nos Estados Unidos. Agora, sem combinar nada, no meio da trilha, lá estavam eles. Foi muito joia e vou tratar mais desse encontro no próximo post.

Juntos com o Helder e a Lilian, os Nerds Viajantes, em El Chaltén, na patagônia argentina

Juntos com o Helder e a Lilian, os Nerds Viajantes, em El Chaltén, na patagônia argentina


Pequeno restaurante em El Chaltén, ao lado do Parque Nacional Los Glaciares, na Argentina

Pequeno restaurante em El Chaltén, ao lado do Parque Nacional Los Glaciares, na Argentina


Falando em trilhas, vamos fazer três delas. As duas primeiras, em sistema de bate e volta. Ou seja, caminhamos e voltamos para a cidade no mesmo dia. Na terceira, ficaremos acampados uma noite no parque. Todas essas trilhas seguem em direção à mais bela e fotogênica das montanhas, o monte Fitz Roy. Aliás, o nome original dessa montanha, dado pelos nativos Tehuelches, era Chaltén. A denominação da jovem cidade é uma forma de homenagear a montanha vizinha, assim como tentar reparar a injustiça de haverem mudado o nome da montanha. “Chaltén” quer dizer “montanha entre nuvens”, alusão ao fato de que o Fitz Roy está quase sempre nublado. O nome atual homenageia o capitão do barco Beagle, aquele em que viajou Charles Darwin na primeira metade do séc. XIX. Nas suas explorações, o barco subiu o rio Santa Cruz, além de ter passado semanas na costa patagônica. Por isso, o famoso explorador e cartógrafo argentino Francisco Moreno (mais conhecido como Perito Moreno) quis homenageá-los quando descobriu a montanha para o mundo ocidental em 1877. Sim, este é o mesmo Perito Moreno que dá nome ao famoso glaciar, ao Parque Nacional e à pequena cidade em que passamos, além de tantas outras coisas mais neste país.

Food Truck em El Chaltén, ao lado do Parque Nacional Los Glaciares, na Argentina

Food Truck em El Chaltén, ao lado do Parque Nacional Los Glaciares, na Argentina


Arte na rua em El Chaltén, ao lado do Parque Nacional Los Glaciares, na Argentina

Arte na rua em El Chaltén, ao lado do Parque Nacional Los Glaciares, na Argentina


A montanha Fitz Roy é mesmo magnífica e, desde que o tempo esteja limpo, nós já a começamos a ver da estrada muito antes de chegarmos à cidade. O coração até acelera quando reconhecemos a silhueta de uma das mais famosas montanhas do mundo, tanto por sua beleza como pela extrema dificuldade técnica de subi-la. Com 3.405 metros de altitude, ela tem bem menos da metade da altura de suas congêneres no Himalaia, mas enquanto mais de 100 pessoas chegam ao cume do Everest em anos favoráveis, por aqui são muito comuns os anos em que ninguém atinge o ponto mais alto dessa montanha quase mágica. Ela foi escalada pela primeira vez em 1952 e, até hoje, apenas os melhores do mundo ousam enfrentar seus paredões vertiginosos, onde gelo e pedra se mesclam numa mistura quase suicida.

Festival de comidas de rua em El Chaltén, ao lado do Parque Nacional Los Glaciares, na Argentina

Festival de comidas de rua em El Chaltén, ao lado do Parque Nacional Los Glaciares, na Argentina


Festival de comidas de rua em El Chaltén, ao lado do Parque Nacional Los Glaciares, na Argentina

Festival de comidas de rua em El Chaltén, ao lado do Parque Nacional Los Glaciares, na Argentina


Depois de trilha, recuperando as energias em restaurante de El Chaltén, ao lado do Parque Nacional Los Glaciares, na Argentina

Depois de trilha, recuperando as energias em restaurante de El Chaltén, ao lado do Parque Nacional Los Glaciares, na Argentina


É claro que nós, simples mortais, não vamos tentar subir o Fitz Roy, mas apenas chegar perto dele para a devida reverência. E ao fazer isso, estaremos entrando e explorando o Parque Nacional Los Glaciares. Criado em 1937 e declarado Patrimônio Mundial pela Unesco em 1980, esse parque com mais de 7 mil km2 é o segundo maior do país. Seu nome é uma referência à gigantesca capa de gelo localizada entre as montanhas andinas e que alimenta nada menos que 47 grandes glaciares. Treze desses rios de gelo correm para o lado argentino, enquanto os outros seguem em direção ao Oceano Pacífico, no lado chileno. Dos que vem para o lado de cá, os mais famosos são o Viedma, onde vamos fazer aulas de escalada no gelo, e o Upsala e Perito Moreno, um pouco mais ao sul e que visitaremos em alguns dias. Esses três glaciares são a principal fonte de água dos enormes lagos Viedma e Argentino que juntos formam o rio Santa Cruz (aquele explorado pelo Beagle), que desagua no Oceano Atlântico.

Depois de caminhada, chegando de volta à El Chaltén, ao lado do Parque Nacional Los Glaciares, na Argentina

Depois de caminhada, chegando de volta à El Chaltén, ao lado do Parque Nacional Los Glaciares, na Argentina


Um dos novos bairros de El Chaltén, ao lado do Parque Nacional Los Glaciares, na Argentina

Um dos novos bairros de El Chaltén, ao lado do Parque Nacional Los Glaciares, na Argentina


A fonte de todas essas geleiras e de toda essa água que irriga dois oceanos é o Campo de Gelo Sul, o segundo mais extenso do mundo fora das regiões polares, atrás apenas de uma enorme capa de gelo na fronteira dos estados canadenses do Yukon e Columbia Britânica e do estado americano do Alaska. Mas essa se encontra em uma latitude muito maior que o Campo de Gelo Sul e até quase poderia ser considerada em zona polar também. Com mais de 12 mil km2 e 350 km de extensão sul-norte, o Campo de Gelo Sul tem 80% da sua área em terras chilenas e o restante dentro das fronteiras argentinas.

A estrada que chega à El Chaltén e ao Parque Nacional Los Glaciares, na Argentina

A estrada que chega à El Chaltén e ao Parque Nacional Los Glaciares, na Argentina


O famoso Cerro Fitz Roy, no Parque Nacional Los Glaciares, em El Chaltén, na patagônia argentina

O famoso Cerro Fitz Roy, no Parque Nacional Los Glaciares, em El Chaltén, na patagônia argentina


Junto com seu irmão menor, o Campo de Gelo Norte, todo em terras chilenas, essas enormes capas de gelo são o que restou (cerca de 4%) do gigantesco lençol de gelo que cobria todo o sul do Chile e parte da patagônia argentina durante a última era glacial, 15 mil anos atrás. Hoje, formam um dos maiores reservatórios de água doce do mundo e, assim como capas de gelo em todo o planeta, estão sendo fortemente afetados pelas mudanças climáticas, derretendo a níveis alarmantes. Curiosamente, alguns dos glaciares que nascem nesses campos de gelo estão aumentando de tamanho, mas a maioria deles segue a tendência mundial e diminuem de ano a ano. Atualmente, quase todo o seu entorno é protegido por parques nacionais que protegem algumas das áreas consideradas as mais belas do planeta. No lado argentino, a leste, o Parque Nacional Los Glaciares. No lado chileno, ao sul, o Parque Nacional Torres del Paine e a oeste, o Bernardo O’Higgins.

Imagem do Google mostra os campos de gelo sul e norte, remanescentes da última era glacial

Imagem do Google mostra os campos de gelo sul e norte, remanescentes da última era glacial


Imagem da NASA mostra o Campo de Gelo Sul, entre Chile e Argentina, a segunda maior extensão de gelo no mundo fora das regiões polares. Diversos parques nacionais nos dois países protegem essa área

Imagem da NASA mostra o Campo de Gelo Sul, entre Chile e Argentina, a segunda maior extensão de gelo no mundo fora das regiões polares. Diversos parques nacionais nos dois países protegem essa área


Essa é a área que começamos a explorar hoje, não só o Los Glaciares aqui na Argentina, mas também o Torres del Paine, no Chile, em poucos dias, e o Bernardo O’Higgins em poucas semanas. Enfim, é uma temporada que promete muitas imagens e histórias e sonhávamos em chegar nessa região desde que iniciamos nossos 1000dias. Finalmente, essa hora chegou! Nos inúmeros posts que se seguirão, certamente terei mais chance de falar dessas montanhas, glaciares e parques, sua história, geografia e futuro incerto. Vamos que vamos!

Depois de caminhada, lanche com cerveja no sol de fim de tarde em El Chaltén, ao lado do Parque Nacional Los Glaciares, na Argentina

Depois de caminhada, lanche com cerveja no sol de fim de tarde em El Chaltén, ao lado do Parque Nacional Los Glaciares, na Argentina

Argentina, El Chaltén, Parque, geleira, Patagônia, geografia, Fitz Roy, Parque Nacional Los Glaciares

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