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Veículos do batalhão de engenharia do Brasil, na base da ONU em Port-au-Prince, no Haiti
As Nações Unidas estiveram presentes no Haiti com diferentes missões de 1993 a 2000. Porém foi justamente no intervalo de saída da ONU, entre 2001 e 2004 que o país passou por sua mais recente crise política. Em 2001 foi eleito o presidente Jean-Bertrand Aristide, com menos de 10% da população indo as urnas. A oposição não aceitou o resultado e a partir daí um novo conflito começava.
As bandeiras da ONU, do Brasil e do Haiti tremulam na base da ONU em Port-au-Prince, capital do país
O descontentamento com o governo foi se alastrando e nos anos seguintes o povo revoltado se armou para tirar o presidente do poder. As principais cidades do país estavam tomadas pelas forças revolucionárias e Aristide não teve outra opção senão sair do país. O ano era 2004, o Haiti acabava de sair de uma guerra civil. A revolução foi vitoriosa, mas encontrou um país à beira de um colapso econômico, político e social. O caos estava instalado e o novo governo provisório já não tinha mais como assegurar a ordem.
Aviso para quem deixa a base da ONU em Port-au-Prince, no Haiti
O país pediu ajuda para a ONU que prontamente atendeu, entrando primeiramente com tropas americanas e elegendo o Brasil para comandar a nova missão de paz. O exército brasileiro foi muito bem recebido pelos haitianos, que mais do que ordens e regras, necessitavam de ajuda. Nosso jeito latino e caloroso de estender a mão, cuidar, tocar, e participar das soluções de problemas foi o grande diferencial para que o povo haitiano aceitasse estrangeiros na organização e reconstrução do seu país.
Monumenro aos militares brasileiros mortos no terremoto de 2010, na base da ONU em Port-au-Prince, no Haiti
A MINUSTAH – Missão das Nações Unidas para Estabilização do Haiti – tem como principais objetivos estabilizar o país, desarmar os grupos de rebeldes e guerrilheiros, promover eleições livres e informadas e formar o desenvolvimento institucional e econômico no Haiti. Os primeiros anos sem dúvida foram os mais complexos, mas hoje com os ânimos mais calmos o principal trabalho das tropas das Nações Unidas são de segurança, dando suporte para a criação de uma nova guarda e polícia nacional, ajudando na construção da infraestrutura básica e na reorganização do país.
Chegando á base da Minustah em Port-au-Prince, no Haiti
Tudo parecia estar indo bem, quando um desastre natural viria trazer novamente a tragédia e o caos para esse povo: o grande terremoto de 12 de janeiro de 2010. As tropas brasileiras sentiram o tremor desde o Campos Charlie. O Major Renato nos conta que ouviu um estrondo e sentiu o chão tremer “Pensei que era uma explosão no paiol e cheguei a me jogar no chão” nos conta enquanto caminhamos pelas ruas da base brasileira. Logo, quando olhou para trás percebeu que todos os contêineres do acampamento estavam fora do lugar, ele viu a imensa nuvem de fumaça subindo e vindo da direção do centro da cidade, foi quando finalmente se deu conta que havia ocorrido um terremoto.
Monumenro aos militares brasileiros mortos no terremoto de 2010, na base da ONU em Port-au-Prince, no Haiti
A missão que estava começando um período de transição para ser retirada do país, reafirmou seu compromisso de ajudar o Haiti e foi renovado o contrato para a permanência da MINUSTAH até que se estabilizasse a situação. O Major Renato está em sua segunda missão no Haiti, é um dos poucos oficiais brasileiros que está no país que realmente vivenciou o drama que se seguiu ao terremoto.
O Major Renato nos recebe na base brasileira em Port-au-Prince, no Haiti
Dentro do Campo Charlie está montada uma verdadeira cidade que atende a todos os integrantes de diferentes países. Na nossa visita fomos à sede onde está baseada a tropa do BRAENGCOY – Companhia de Engenharia de Força de Paz. São prédios permanentes e algumas áreas provisórias com estrutura completa que reúnem as salas de comando, reunião e escritórios que organizam todos os trabalhos de engenharia que as Nações Unidas estão envolvidas.
Veículos do batalhão de engenharia do Brasil, na base da ONU em Port-au-Prince, no Haiti
Todos os soldados brasileiros que participam da missão são voluntários e ficam alocados por 6 meses. A área de moradias é formada por dezenas de contêineres adaptados para quartos onde dormem até 4 pessoas. O campo possui a sua própria estação de tratamento de água, ambulatório e uma grande área de estacionamento com todo o maquinário utilizado nas obras. Todo este maquinário foi muito útil após o terremoto e hoje continua sendo essencial para as obras de terraplanagem e pavimentação de estradas, perfuração de poços artesianos e as mais diversas obras necessárias no país. A companhia também participa de ações sociais de distribuição de água e doações em comunidades carentes.
Conteiners em que moram os militares brasileiros na base da ONU em Port-au-Prince, no Haiti
Sempre fui curiosa para entender como funcionaria o dia a dia do exército, principalmente em uma missão como esta. O que eu percebo é que em geral nós, civis, não temos muita ideia do leque de atuação do exército no nosso país. Pensamos, o Brasil nunca entra em guerra, por que precisamos de tanto investimento nas forças militares? Bem, é sempre bom estar prevenido, mas ainda assim é importante sabermos que todos eles possuem um papel fundamental, não apenas na segurança e defesa das fronteiras como inclusive no desenvolvimento de infraestrutura do país. Rodovias, abertura de estradas, preparação do terreno e fundação para grandes obras no meio da floresta Amazônica ou onde seja, não seriam viáveis não tivesse “uma mãozinha” do exército. Resumindo, eles fazem o trabalho duro, depois as construtoras licitadas chegam e levantam as paredes.
Visita à base brasileira em Port-au-Prince, no Haiti
Conhecemos alguns dos integrantes do Batalhão de Engenharia do Exército quando eles estavam no seu dia de folga em uma praia na baía de Port-au-Prince. Vendo a minha curiosidade e interesse em conhecer a missão e um pouco do dia-a-dia deles aqui no Haiti, nos convidaram a visitar a sede. O Sub-Comandante Spetch que trabalha na área de comunicação do BRAENGCOY conseguiu a autorização do comandante, agendou a visita e mesmo em meio à uma inspeção da ONU, a equipe se desdobrou para atender-nos. Fomos recebidos pelo Sargento Josenilson e logo pelo Major Renato, que percorreu todo o campo conosco, explicando como funciona, quais as funções e qual era a organização do campo onde vivem os contingentes brasileiros.
Visita à base brasileira em Port-au-Prince, no Haiti
O Brasil tem mais de 2 mil soldados no Haiti e agora a missão de estabilização entra novamente em um período de transição, começando a diminuir as tropas. Foi um grande privilégio poder visitar e conhecer de perto o trabalho desse pessoal aqui, um orgulho para o povo brasileiro. Em um país com o histórico do Haiti, chego a achar que este é um programa quase obrigatório no roteiro. Hey comandante! Já pensou se a moda pega?
Visita à base brasileira em Port-au-Prince, no Haiti
Ana e Rodrigo,
Meus parabéns pelo blog. Estou aproveitando a quarentena e planejando viagens. Gostei muito das informações claras e bem detalhadas dadas por vocês. Grande abraço!
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