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Ana (21/04)
Meu sonho conhecer Santiago do Chile. Trabalhei em um projeto com uma equ...
Fabio da Silva Pereira (18/04)
Muito boa a sua história! Me fez lembrar quando estava nesse estágio de...
Alessandra Santos (11/04)
Eu achei incrÃvel o seu relato! Gostaria de saber como conseguiu contato...
Ana Terra (28/03)
Oi Ana! Adorei o seu relato! Fiquei morreeendo de vontade de acampar aà ...
Marco Antonio Cardoso de Toledo (14/03)
Até entendo esses olhares apaixonados pelo meio ambiente, mas ele precis...
Tentando aprender o envolvente ritmo garifuna em Livingston, no litoral da Guatemala
Os garifunas chegaram neste litoral vindos da ilha de St. Vicent. Africanos fugidos dos navios negreiros que se mesclaram com os Caribs e Arawaks e formaram nova etnia, uma misturança entre africanos, indÃgenas e até os olhos verdes de alguns náufragos europeus. A mistura que forma este povo não se vê apenas nos traços dos garifunas, mas também nas suas tradições, na sua arte e na sua lÃngua, que possui elementos de todas estas culturas. O som africano da sua fala também se entranha nos seus cânticos e nos seus tambores, passados de mãe para filho, como conta Blanca, mãe de 5 (4 adotivos), e avó de 8 até o momento.
Autoretrato de uma bela menina garifuna, em Livingston, no litoral da Guatemala
Blanca é a herdeira do Ubafu - Centro Cultural Garifuna da cidade de Livingston. Sua a mãe lhe passou a urgência de trabalhar para manter e disseminar a cultura garifuna pela cidade e pelo paÃs. Apresentações de músicas, danças e histórias garifunas reúnem os jovens da cidade e os poucos viajantes que chegam até aqui. Ela mantém o centro com doações dos turistas em suas apresentações. Nas duas noites que estivemos lá não havia ninguém além de nós... Desde nosso rápido encontro com os garifunas em Belize, eu estava decidida a entrar um pouco mais nesta cultura. Sou apaixonada por música e por tambores, embora nunca tenha aprendido a tocar achei que fazer uma aula de tambor seria uma boa forma de entrar, conviver e ajudar na manutenção do centro cultural garifuna.
As aulas de tambor com a Blanca foram mais do que batucadas, foram um mergulho na vida da comunidade que gira em torno do Ubafu, que entrava e saÃa entre as histórias de sua infância, contos e pontos garifunas. Sua didática é simples, a da cópia e reprodução, assim como ela aprendeu. Suas músicas falam do mar, de chegadas e despedidas, sempre muito alegres e melódicas.
Tentando aprender o envolvente ritmo garifuna em Livingston, no litoral da Guatemala
Eu me entreti com as crianças, enquanto esperava Blanca receber o vendedor de sapatos, jogar água no chão de terra batida para refrescar o calor abafado do Ubafu e prosear com suas vizinhas que vieram assuntar sobre a comunidade.
Garoto garifuna em Livingston, no litoral da Guatemala
Dario, de 11 anos, cuidava da bebê, colocava ordem entre as primas e irmãs e ainda nos acompanhava na aula de tambor, fazendo a base e me ajudando com o tempo e o contratempo de cada batida. Greicen de 8 anos estava encantada com a câmera e suas tranças bem aprumadas, gravou vÃdeos, tirou fotos e ainda me ensinou a dançar os ritmos garifunas, com movimentos bem africanos como do nosso afoxé baiano. Liritcha de 4 anos me fez prometer que o nome da minha filha será Liritcha e se for menino? Liritcho! É claro!
Interagindo com crianças em centro cultural garifuna, em Livingston, no litoral da Guatemala
De noite voltamos lá para nos despedirmos de Blanca e ainda ganhamos um toque de despedida. Dizer adeus é difÃcil, ainda mais quando entramos para a famÃlia. Tive uma conversa profunda com Blanca que me contou da sua briga com um fantasma que tinha ao não ter completado os 7 anos como angelita durante as missas da Semana Santa. No seu sétimo ano ficou com vergonha de entoar um poema, que sabia décor, o qual a perseguiu em seus pesadelos por mais de 40 anos! Semana passada, suando de nervoso, Blanca colocou sua roupa mais linda, branca e toda rendada e esperou na porta do Ubafu a procissão passar. Passou o padre, a imagem, os coroinhas e o povo, e ela se enfiou no meio buscando um lugar mais alto para que pudesse ser ouvida. Eis que com um nó na garganta e muita coragem no peito Blanca começa a recitar o poema, com lágrima nos olhos percebe que todos estão a lhe olhar, parados, estupefatos. Sua voz trêmula é contrabalançada por sua forte presença e quando termina recebe aplausos de toda a procissão, que segue cantando feliz, sem ter noção do que acabara de acontecer ali. Blanca havia tirado das costas uma culpa e um peso imenso que a acompanhou durante toda sua vida.
Autoretrato de uma bela menina garifuna, em Livingston, no litoral da Guatemala
Nesta noite ela me contou também que sua primeira filha foi um milagre divino, pois sem namorado algum ela engravidou. Fiquei curiosa sobre a sua visão espiritual, comum à s crenças africanas e a mim. Sua religiosidade não permitiu que me contasse que é uma médium poderosa, Rodrigo descobriu conversando com seu amigo. Ainda assim sua fala um pouco confusa tentava me dizer que eles (os espÃritos) sabem muito sobre nós e que à s vezes estão aqui ao nosso lado, em uma mensagem direta sobre uma pessoa muito especial da minha famÃlia que estava ao meu lado. Demorei a me dar conta do recado tão direto que acabara de receber e quando me dei já era tarde para voltar e perguntar mais.
Praticando com tambores garifunas em Livingston, no litoral da Guatemala
Blanca sabe o seu valor na comunidade e de certa forma espera este reconhecimento em forma de um prêmio, uma homenagem, uma honraria enquanto ainda estiver viva. Mal sabe ela que este prêmio já lhe é conferido todos os dias, a cada criança que escuta suas histórias, a cada jovem que aprende o seu tambor, a cada garifuna que valoriza a sua cultura e a passa para frente, orgulhosos de sua origem e da sua história.
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