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Fernando (25/02)
Parabéns pelo relato! Vc pode mandar o contato da equipe que vc contrato...
José Carlos macieM filho (22/02)
por gentileza poderia me auxiliar como entrar em contato com alguém na N...
SANDRO ZIMMERMANN (28/01)
Boa tarde. Vi seu blog ... e gostaria de saber se existe passagem de El C...
Gustavo Lucas di Cavalcanti (18/01)
Parabéns pela postagem, muito esclarecedora, se quiser também dar uma o...
Lucas (16/01)
O visual absolutamente maravilhoso, com cara de cartão postal, do rio Baker, região de Cochrane, na Carretera Austral, no sul do Chile
Tínhamos um longo dia pela frente hoje. Não que a distância fosse grande, mas 400 km de rípio são bem diferentes de 400 km de asfalto. Isso sem contar o trecho de balsa, entre Rio Bravo e Puerto Yungay. Além disso, ainda planejávamos passar algumas horas em Puerto Rio Tranquilo visitando uma das mais famosas atrações turísticas da patagônia chilena, a “Catedral de Mármore”. Não é uma obra da arquitetura humana, mas uma formação natural no meio do lago General Carrera. Enfim, era mesmo um dia longo o que havíamos planejado.
Uma das muitas quedas d'água perto da estrada ao sul de Cochrane, na Carretera Austral, região de Aysén, no Chile
O que nos dava uma certa preguiça era que, dos 400 km pretendidos de viagem, cerca de 300 deles seriam de repetição, o mesmo trecho que já havíamos feito no sentido norte-sul, quando chegamos da Argentina. Desde o início já sabíamos que seria assim, que esse era o “preço” que deveríamos pagar por tanto querer chegar até o início da Carretera Austral aqui em Villa O’Higgins. Certamente as belezas que vimos em Caleta Tortel e na própria Villa O’Higgins valeram qualquer esforço de ter de repetir esse longo trecho de estrada, mas agora que iniciávamos a viagem de volta, sim, a preguiça batia.
Lago na região de Villa O'Higgins, no caminho entre a cidade e Rio Bravo, onde se toma a balsa em direção a Cochrane, na Carretera Austral, sul do Chile
Lago na região de Villa O'Higgins, no caminho entre a cidade e Rio Bravo, onde se toma a balsa em direção a Cochrane, na Carretera Austral, sul do Chile
Pois bem, muitas e muitas vezes na minha vida de trilheiro tenho ouvido a máxima de que o caminho de volta nunca é o mesmo que o caminho de ida. Sim, a rota pode ser exatamente a mesma, mas as condições do dia, chuva, sol e horário da luz, tudo isso faz com que a paisagem mude. Além disso, e ainda mais importante, o nosso campo de visão é exatamente o contrário. Por exemplo, aqui na Carretera Austral, se antes mirávamos para o sul, agora teríamos o norte à nossa frente. A viagem de hoje, mais do que todas as experiências anteriores, provou que essa máxima não poderia ser mais verdadeira. Foi uma outra estrada a que conhecemos hoje. Simplesmente, espetacular!
Embarcando a Fiona de ré na balsa em Rio Bravo, caminho da Carretera Austral entre Villa O'Higgins e Cochrane, no sul do Chile
Embarcando a Fiona de ré na balsa em Rio Bravo, caminho da Carretera Austral entre Villa O'Higgins e Cochrane, no sul do Chile
Fantasiado de chileno patagônico na balsa entre Rio Bravo e Puerto Yungay, a caminho de Cochrane, no sul da Carretera Austral, no Chile
Apesar da longa viagem que nos esperava, o horário da nossa partida foi ditado não pela nossa pressa de cair na estrada, mas pelo horário da balsa que liga a região de Villa O’Higgins com o resto da Carretera Austral, ao norte. São exatos 100 km da cidade até Rio Bravo, onde se dá o embarque. A primeira balsa parte às 11 horas, o que nos fez sair, com uma certa margem de manobra, um pouco depois das nove da manhã. Observamos outros poucos carros partirem antes de nós e saímos ao seu encalço para ultrapassá-los, pois o espaço no barco é limitado e não queríamos correr riscos. A Fiona, alta e tracionada, é craque nessas estradas e não demorou muito para que liderássemos a pequena caravana.
O quiosque cheio de adesivos de expedições em Puerto Yungay, no sul da Carretera Austral, no Chile
A família dona do quiosque que faz deliciosas empanadas, em Puerto Yungay (saída da balsa), no sul da Carretera Austral, no Chile
No caminho, ainda tivemos tempo para parar e tirar fotos da bela paisagem, o dia ainda nublado e úmido, típico desse região chilena. Ao lado de lagos e sempre no fundo de vales escavados por antigas geleiras, fomos aproveitando a estrada completamente vazia à nossa frente até que alguns carros começaram a aparecer no sentido contrário. Era o sinal de que a balsa havia chegado! Poucos minutos depois, chegamos a Rio Bravo, os primeiros da fila. O único obstáculo que poderia nos atrasar hoje tinha sido superado! De ré, fomos entrando um por um. Orientados pelos marinheiros, fomos um dos últimos a entrar, o que significava que estaríamos entre os primeiros a sair!
A ruibarba, planta muito comum na patagônia chilena, boa para fazer geleia! (ao sul de Cochrane, na Carretera Austral, região de Aysén, no Chile)
A ruibarba, planta muito comum na patagônia chilena, boa para fazer geleia! (ao sul de Cochrane, na Carretera Austral, região de Aysén, no Chile)
A travessia da balsa dura 45 minutos e, apesar de tanto parecer que estamos navegando em um lago, aquilo na verdade é um fiorde, água salgada do mar. Essa região do Chile é famosa por esses estreitos e profundos canais que entram dezenas de quilômetros dentro do continente. Outra vez, “pegadas” deixadas pelas gigantescas geleiras do passado. O GoogleMaps não consegue montar o caminho de Villa O’Higgins para o norte, justamente por causa desse trecho de balsa. Por isso, o mapa que coloquei nesse post não mostra a nossa rota, mas é muito fácil percebê-la entre as poucas estradas da região. A Carretera Austral é a “ruta 7” do mapa. O trecho que fizemos no final do dia depois de Puerto Rio Tranquilo e no qual saímos da Carretera Austral, vou mostrar e descrever em um outro post.
O visual magnífico das montanhas andinas na patagônia chilena, na Carretera Austral, trecho ao sul de Cochrane
O visual magnífico das montanhas andinas na patagônia chilena, na Carretera Austral, trecho ao sul de Cochrane
Bem, passamos o tempo na balsa experimentando chapéus e boinas chilenas, além de conhecer outros passageiros. Por fim, chegamos ao outro lado do fiorde, em Puerto Yungay. Agora, só encontraremos balsas novamente perto da extremidade norte da Carretera Austral, lá no parque de Pumalin. Tem muita poeira ainda até lá. Mas antes de pegar estrada novamente, ainda passamos uma meia hora com nossos amigos donos do único quiosque em Puerto Yungay. É uma família com uma filha bem esperta que controla as finanças do estabelecimento. Aí nós nos refestelamos outra vez (a primeira tinha sido na vinda) com as deliciosas empanadas que a mãe sabe fazer. Acho que elas são famosas pelo mundo inteiro, dado a quantidade de adesivos de expedições deixados na janela do quiosque.
Trafegando na Carretera Austral na região de Cochrane, sul do Chile
Mais um lago na linda paisagem da região de Cochrane, na Carretera Austral, no sul do Chile
Outra guloseima encontramos já na estrada, alguns quilômetros adiante. Na verdade, não a própria guloseima, mas o ingrediente dela. É uma planta muito comum por aqui, o ruibarbo, que deixa a vegetação ainda mais verde e viçosa. As pessoas fazem uma deliciosa geleia com ela e nós iríamos prová-la ainda hoje, no local onde passamos a noite. Já chego nessa história, em outro post.
O visual absolutamente maravilhoso, com cara de cartão postal, do rio Baker, região de Cochrane, na Carretera Austral, no sul do Chile
O visual absolutamente maravilhoso, com cara de cartão postal, do rio Baker, região de Cochrane, na Carretera Austral, no sul do Chile
Foi a partir daí, já a meio caminho para Cochrane, que nossa estrada “mudou”. As nuvens se dissiparam, o sol e o céu azul apareceram e a paisagem mudou para um verdadeiro cartão postal. Primeiro foram as altas montanhas com seus picos nevados contrastando com o céu azul ao fundo. Na vinda, esses mesmos picos estavam nas nossas costas e haviam passado despercebidos. Mas agora, eram os reis do nosso horizonte, um verdadeiro sacrilégio passar por aqui sem notá-los e prestar a devida reverência.
Uma cascata do rio Baker, local onde há projetos de construção de hidrelétricas, região de Cochrane, na Carretera Austral, no sul do Chile
O visual absolutamente maravilhoso, com cara de cartão postal, do rio Baker, região de Cochrane, na Carretera Austral, no sul do Chile
Mas o melhor ainda estava por vir. Refiro-me ao rio Baker, aquele que nasce lá no lago General Carrera, acompanha a Carretera Austral (ou vice-versa!) na direção sul e deságua no oceano quase ao lado de Caleta Tortel. É o maior e mais caudaloso rio chileno e está no centro da polêmica sobre a construção de várias barragens e hidrelétricas aqui no sul do Chile. Já falei dessa história em outros posts e não vou me alongar no assunto. O fato é que, ao vê-lo hoje, maravilhoso, correndo livre, leve e solto por esse mundo quase intocado, foi o argumento final que precisávamos para ter certeza de que ele assim deve continuar. Que coisa mais fantástica!
O rio Baker e sua cor inacreditável, na região de Cochrane, na Carretera Austral, no sul do Chile
O rio Baker e sua cor inacreditável, na região de Cochrane, na Carretera Austral, no sul do Chile
Ao contrário das montanhas, ele não havia passado despercebido para nós no trecho de vinda, poucos dias atrás. Mas passamos aqui já com bem pouca luz. Mesmo quase na sombra, já tínhamos achado ele muito bonito, mas ansiávamos vê-lo sob a luz direta do sol. Todas as nossas expectativas foram simplesmente estilhaçadas e esmagadas quando o vimos iluminado por boa luz. Já esperávamos algo maravilhoso, mas ele é muito melhor do que isso. Um cartão postal? Uma pintura? Um outdoor “photoshopado”? Não, é o rio Baker mesmo, em “carne e osso”, ao vivo e em cores!
Mais um cartão postal do rio Baker, região de Cochrane, na Carretera Austral, no sul do Chile
A água parece pintada de azul. Algumas vezes, com uma tonalidade mais clara, cremosa, e outras, um azul irretocável, uma verdadeira piscina. Já tínhamos visto rios parecidos, mas eles eram bem menores, riachos quando comparados com o Baker. Esse é um rio de verdade, caudaloso, muita água. Afinal, ele é a única válvula de escape de um dos maiores lagos do continente, o General Carrera (Buenos Aires, do lado argentino). Vendo ele assim, tão de perto e iluminado, ficou bem claro porque ecologistas de todo o mundo, principalmente os chilenos, se empenham tanto para preservá-lo.
A cor incrível do lago General Carrera na região Puerto Rio Tranquilo, na Carretera Austral, no sul do Chile
A cor incrível do lago General Carrera na região Puerto Rio Tranquilo, na Carretera Austral, no sul do Chile
Bem, ao lado de um rio mágico desse, é fácil imaginar que o ritmo da viagem caiu bastante. Mas, por fim, chegamos mais uma vez em Cochrane. Parada estratégica para colocar o valioso combustível e também para pegar dinheiro no caixa automático. Depois daqui, só em Coyhaique, a maior metrópole de Aysén e muitos e muitos quilômetros ao norte, onde imaginamos chegar amanhã no final do dia.
Chegando a Puerto Rio Tranquilo, às margens do lago General Carrera, na Carretera Austral, no sul do Chile
Chegando a Puerto Rio Tranquilo, às margens do lago General Carrera, na Carretera Austral, no sul do Chile
Um último trecho de estrada repetida, justamente aquele cheio de “calaminas” (as costelas de vaca) e chegamos novamente ao pai do rio Baker, o lago General Carreras. Tal pai, tal filho, tal filho, tal pai. Devidamente iluminado, as águas do lago também são maravilhosas, principalmente nas pequenas baías. Deixamos para trás a encruzilhada que nos levaria até Chile Chico (de onde viemos, da Argentina) e continuamos na Carretera Austral no rumo norte, agora em território desconhecido.
A Carretera Austral na região de Puerto Rio Tranquilo, no sul do Chile
A bela paisagem do gigantesco lago General Carrera, região de Puerto Rio Tranquilo, na Carretera Austral, no sul do Chile
O gigantesco lago sempre ao nosso lado, um cartão postal atrás do outro a cada curva ou elevação da estrada. O que será que faz a água ficar tão azul? Talvez por não entender e também não estar acostumado com essa visão, fotografamos mais e mais. Num determinado trecho, em uma das pequenas baías, é possível chegar até a orla. A água é gelada e agitada, pois o vento não para. Um colírio para os olhos, mas um mergulho está fora de cogitação.
A bela paisagem do gigantesco lago General Carrera, região de Puerto Rio Tranquilo, na Carretera Austral, no sul do Chile
A bela paisagem do gigantesco lago General Carrera, região de Puerto Rio Tranquilo, na Carretera Austral, no sul do Chile
Pois é, mergulhar ou nadar pode ser difícil, mas navegar não. E era isso que iríamos fazer. Pouco antes das seis da tarde, chegávamos a Puerto Rio Tranquilo, uma pequena cidade na orla do lago. À esta hora, o sol ainda está alto no céu e nosso plano era fazer o passeio que traz tanta gente de longe para esse povoado perdido no sul do Chile. Daí saem os barcos que nos levam para um estranho monumento natural no meio das águas azuis do General Carrera, a Catedral de Mármore. Assunto para o próximo post.
Mais um cartão postal da Carretera Austral, o lago General carrera, na região de Puerto Rio Tranquilo, no sul do Chile
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