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O Vulcão Chaitén - Blog do Rodrigo - 1000 dias

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O Vulcão Chaitén

Chile, Chaitén

Na crista do vulcão Chaitén, que entrou em erupção em 2008, no sul do Chile

Na crista do vulcão Chaitén, que entrou em erupção em 2008, no sul do Chile


Poucas forças na natureza tem o potencial destrutivo de um vulcão. Quando eles despertam de seus sonos profundos e entram erupção é que percebemos o quão pequenos e indefesos, mesmo com toda a tecnologia do séc. XXI, ainda somos. Jamais vou me esquecer de quando, na década de 90, o vulcão Pinatubo entrou em erupção nas Filipinas. Uma das consequências foi que aqui, do outro lado do mundo, o pôr-do-sol ficou muito mais bonito e avermelhado durante semanas. A outra foi que os Estados Unidos, a maior potência bélica e tecnológica do mundo, teve de botar o rabinho entre as pernas e desmontar às pressas a enorme base área que mantinha ali do lado, a mais importante naquela parte do globo. Resistir ao ataque de russos ou chineses, tudo bem. Mas contra um vulcão mal humorado, nada se pode fazer.

A vegetação cresce onde antes havia uma densa floresta, completamente destruída pelo vulcão Chaitén em Maio de 2008, no sul do Chile

A vegetação cresce onde antes havia uma densa floresta, completamente destruída pelo vulcão Chaitén em Maio de 2008, no sul do Chile


A vegetação cresce onde antes havia uma densa floresta, completamente destruída pelo vulcão Chaitén em Maio de 2008, no sul do Chile

A vegetação cresce onde antes havia uma densa floresta, completamente destruída pelo vulcão Chaitén em Maio de 2008, no sul do Chile


Vegetação cresce no terreno da floresta destruída pela erupção do vulcão Chaitén, no sul do Chile

Vegetação cresce no terreno da floresta destruída pela erupção do vulcão Chaitén, no sul do Chile


Essa é a visão que temos, que está ligada à nossa escala de tempo. Vivemos e morremos em um punhado de décadas. Nesse tempo, sem dúvida, os efeitos de erupções vulcânicas são quase sempre destrutivos. Mas num espaço de tempo mais longo, geológico, de centenas de milhares ou milhões de anos, a história é diferente. Nesse caso, os vulcões são a maior força renovadora do planeta. Constantemente reconstruindo e recriando não apenas nossa crosta, mas também a atmosfera da Terra. Nessa escala de tempo, quase tudo o que vemos ou conhecemos já foi enviado de volta às camadas profundas da Terra, reciclado e expelido de volta por esses mesmos vulcões que tanto tememos. Então, ao mesmo tempo que eles são a fonte de destruição e morte que conhecemos, são também fonte de reconstrução e vida no planeta.

Trilha para subir o vulcão Chaitén passa pelos restos da antiga floresta que existia na região antes da erupção em 2008, no sul do Chile

Trilha para subir o vulcão Chaitén passa pelos restos da antiga floresta que existia na região antes da erupção em 2008, no sul do Chile


Trilha para subir o vulcão Chaitén passa pelos restos da antiga floresta que existia na região antes da erupção em 2008, no sul do Chile

Trilha para subir o vulcão Chaitén passa pelos restos da antiga floresta que existia na região antes da erupção em 2008, no sul do Chile


As raízes de uma grande árvore morta pela erupção do vulcão Chaitén, no sul do Chile

As raízes de uma grande árvore morta pela erupção do vulcão Chaitén, no sul do Chile


Até a manhã do dia 2 de Maio de 2008, os habitantes da pequena Chaitén viviam tranquilamente em sua cidade quase perdida no litoral sul do Chile. Esse país perde apenas para a Indonésia em número de vulcões ativos no mundo. Ambos fazem parte do chamado Círculo de Fogo do Pacífico. Mas os vulcões próximos e monitorados de Chaitén estavam tranquilos como nunca. Foi quando o perigo apareceu de onde menos se esperava. A dez quilômetros dali, uma montanha que poucos sabiam ser um vulcão ativo, despertou de um sono de 10 mil anos. No dia seguinte, as plumas e fumaça que saíam de sua cratera já atingiam impressionantes 30 km de altura, três vezes mais alto do que voam os aviões intercontinentais. Mais um dia e uma incrível foto de satélite mostrava a coluna de cinzas atravessando os Andes, toda a patagônia argentina e chegando ao Oceano Atlântico.

Nuvem de cinzas do vulcão Chaitén, poucos dias após o início da erupção, atravessa os Andes, toda a patagônia argentina e chega ao Oceano Atlântico

Nuvem de cinzas do vulcão Chaitén, poucos dias após o início da erupção, atravessa os Andes, toda a patagônia argentina e chega ao Oceano Atlântico


Restos da floresta destruída pela erupção do vulcão Chaitén em 2008, no sul do Chile

Restos da floresta destruída pela erupção do vulcão Chaitén em 2008, no sul do Chile


A vida na antes pacata cidade de Chaitén, obviamente, virou de cabeça para baixo. O governo chileno, mais do que rapidamente, evacuou toda a população para Puerto Montt. Bem a tempo, porque alguns dias depois, as cinzas expelidas pelo vulcão assorearam completamente o rio local que transbordou, inundou e destruiu uma boa parte da cidade, mudando bastante a geografia local. A antiga praia, por exemplo, desapareceu sob escombros e foi parar 300 metros adiante.

A floresta destruída pela erupção do vulcão Chaitén permanece em pé, como um fantasma, nas encostas da montanha, no sul do Chile

A floresta destruída pela erupção do vulcão Chaitén permanece em pé, como um fantasma, nas encostas da montanha, no sul do Chile


A floresta destruída pela erupção do vulcão Chaitén permanece em pé, como um fantasma, nas encostas da montanha, no sul do Chile

A floresta destruída pela erupção do vulcão Chaitén permanece em pé, como um fantasma, nas encostas da montanha, no sul do Chile


Os efeitos não se sentiram apenas na cidade, claro. A bela Futaleufu, a 75 km dali, foi coberta por uma camada de 10 a 15 cm de cinzas. Fontes de água foram envenenadas a centenas de quilômetros dali. Bem mais perto, na verdade no epicentro dos eventos, uma densa floresta de árvores gigantes foi calcinada pelos fluxos piroclásticos. Essa floresta ficava (e fica!) dentro do parque Pumalin, a maior reserva privada do país e uma das maiores do mundo, propriedade do milionário americano Doug Tompkins (ainda vou falar dele no próximo post). Um dos mais organizados parques do país, sofreu um forte impacto com a erupção. O parque permaneceu fechado por quase três anos, mas após um bravo e intenso trabalho de recuperação, reabriu seus portões em 2011. O vulcão havia adormecido novamente em Julho de 2008 e os guarda-parques foram capazes de reestabelecer uma nova trilha através do terreno destruído até o alto do vulcão.

O interior do vulcão Chaitén, no sul do Chile

O interior do vulcão Chaitén, no sul do Chile


O interior do vulcão Chaitén, no sul do Chile

O interior do vulcão Chaitén, no sul do Chile


O solo de lama endurecida do interior do vulcão Chaitén, no sul do Chile

O solo de lama endurecida do interior do vulcão Chaitén, no sul do Chile


Vulcão, aliás, que ficou quase 200 metros mais alto do que era anteriormente. A recomendação é que se faça a trilha acompanhado por algum guia, não por perigo de erupção ou coisa parecida, mas para conseguir encontrar o caminho no meio daquela confusão. Mas alguém na cidade nos disse que conseguiríamos seguir a trilha sozinhos e resolvemos fazer a tentativa. Então, para o Parque Pumalín seguimos e, meia hora mais tarde, estávamos boquiabertos com o que víamos pela frente.

Fumaça e vapor ainda saem das encostas internas do vulcão Chaitén, no sul do Chile

Fumaça e vapor ainda saem das encostas internas do vulcão Chaitén, no sul do Chile


Fumaça e vapor ainda saem das encostas internas do vulcão Chaitén, no sul do Chile

Fumaça e vapor ainda saem das encostas internas do vulcão Chaitén, no sul do Chile


Boa parte da encosta do vulcão e também a planície logo abaixo estão tomados por um fantasma da antiga floresta. Milhares de troncos caídos ou ainda em pé, secos, sem vida. Árvores com dezenas de metros de altura, troncos espessos, tudo derrubado ou morto como se fossem palitos de fósforos. Perto da força de um vulcão, tanto faz se você é um palito de fósforo, um homem, um gigantesco alerce ou uma densa floresta. Um fluxo piroclástico nos torna todos iguais.

Os restos calcinados de antigas árvores gigantes no topo do vulcão Chaitén, no sul do Chile

Os restos calcinados de antigas árvores gigantes no topo do vulcão Chaitén, no sul do Chile


Cenário desolador no topo do vulcão Chaitén, no sul do Chile

Cenário desolador no topo do vulcão Chaitén, no sul do Chile


Nós já tínhamos estado uma vez em uma área destruída por uma erupção vulcânica. Foi no Monte Santa Helena, nos Estados Unidos (post aqui). Mas lá, a erupção tinha 30 anos enquanto aqui, tem apenas 5 anos. Parece muito mais perto de nós. Quase ainda se ouve essa floresta sendo dizimada em poucos momentos, seus troncos ainda em pé continuam a se contorcer de dor e tristeza.

Observando os efeitos da erupção do vulcão Chaitén, no sul do Chile

Observando os efeitos da erupção do vulcão Chaitén, no sul do Chile


Vista do vale em frente ao vulcão Chaitén, no sul do Chile

Vista do vale em frente ao vulcão Chaitén, no sul do Chile


Ao mesmo tempo, é interessante como a natureza se renova e uma nova geração de vegetação cresce abaixo do que restou da antiga floresta. É o verde retomando, com força, aquilo que já foi seu, recolonizando as encostas do vulcão. Quanto mais baixo, mais evidente está esse processo, mas um dia a floresta chega lá encima outra vez. É a morte se transformando em vida. Um milagre da natureza. É o vulcão destruindo, mas refazendo a vida.

No alto do vulcão Chaitén, observando o vale abaixo, no sul do Chile

No alto do vulcão Chaitén, observando o vale abaixo, no sul do Chile


Do alto do vulcão Chaitén se vê o rio que levou o lahar até o mar na erupção de 2008, no sul do Chile

Do alto do vulcão Chaitén se vê o rio que levou o lahar até o mar na erupção de 2008, no sul do Chile


Aos poucos, subimos os quase 1000 metros até o topo, até a crista do vulcão. Dentro da cratera ainda se vê muita fumarola. Alguém ainda está vivo lá embaixo! Desde que não acorde hoje, tudo bem! A vista lá do alto é mesmo incrível. De um lado, o lindo vale aos nossos pés, o mar ao longe e para ele o rio correndo, o mesmo que foi entupido pelas cinzas e que causou tanta destruição. As montanhas vizinhas, ainda cobertas de vegetação espessa, nos dão uma ideia de como era o Chaitén até 2008. Do outro lado, a cratera agora estéril do vulcão. Antes, ali haviam dois lagos. As próprias encostas internas eram cobertas de verde. Disso, absolutamente nada sobrou.

Os restos calcinados de antigas árvores gigantes no topo do vulcão Chaitén, no sul do Chile

Os restos calcinados de antigas árvores gigantes no topo do vulcão Chaitén, no sul do Chile


Entre os esqueletos de antigas árvores, no topo do vulcão Chaitén, no sul do Chile

Entre os esqueletos de antigas árvores, no topo do vulcão Chaitén, no sul do Chile


Mas ali na crista, alguns poucos troncos sobraram. Mortos, secos, calcinados. Mas o tronco resistiu, um símbolo da morte causada pela erupção. Incrível a força dessas árvores de terem resistido. Quer dizer, ao menos os seus troncos. Aos seus pés, a inspiração que temos é a de reflexão. Reflexão sobre o quão efêmera é a vida e a realidade que cremos eterna. Nada como a força de uma erupção vulcânica para transformar em pó tudo aquilo que julgamos inabalável.

Observando uma das árvores gigantes que foram destruídas com a erupção do vulcão Chaitén em 2008, no sul do Chile

Observando uma das árvores gigantes que foram destruídas com a erupção do vulcão Chaitén em 2008, no sul do Chile


Uma nova geração de plantas recoloniza as encostas do vulcão Chaitén, no sul do Chile

Uma nova geração de plantas recoloniza as encostas do vulcão Chaitén, no sul do Chile


Ao mesmo tempo, observar lá de cima a vida retomando o território que um dia foi seu, crescendo sobre antigos esqueletos de um mundo que já não mais existe, nos lembra dos ciclos da vida. Algumas vezes, esses ciclos podem ser longos demais para nós. Mas no tempo de vida de um planeta, eles são rápidos como um piscar de olhos. E os vulcões e suas terríveis erupções são apenas parte desses ciclos de renovação. Lá do alto, tudo o que consigo pensar é: “Como é belo o planeta em que vivemos!”.

Observando o mar do alto do vulcão Chaitén, no sul do Chile

Observando o mar do alto do vulcão Chaitén, no sul do Chile

Chile, Chaitén, trilha, Parque, vulcão, Patagônia, Carretera Austral

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Tompkins, Pumalín, Alerces e o Conservacionismo

Comentários (2)

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  • 24/11/2018 | 17:31 por GISELE GONÇALVES DE OLIVEIRA ANTUNES

    Bom dia,tenho planos para fazer esta trilha, quanto tempo para subir e decer e quais equipamento vocês levaram?
    Gisele oliveira

  • 02/06/2015 | 11:42 por Suelyn

    Olá!
    Incrível o lugar. Não sabia que era possível visitar um vulcão com um histórico de atividade tão próximo.
    Adorei o relato de vocês.
    Vocês lembram quanto tempo de trilha até o vulcão?
    Parabéns,
    Suélyn

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