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Karina (27/09)
Olá, também estou buscando o contato do barqueiro Tatu para uma viagem ...
ozcarfranco (30/08)
hola estimado, muy lindas fotos de sus recuerdos de viaje. yo como muchos...
Flávia (14/07)
Você conseguiu entrar na Guiana? Onde continua essa história?...
Martha Aulete (27/06)
Precisamos disso: belezas! Cultura genuína é de que se precisa. Não d...
Caio Monticelli (11/06)
Ótimo texto! Nos permite uma visão um pouco mais panorâmica a respeito...
Decoração de Casa de Chá em Gaiman, cidade de colonização galesa na Patagônia, na Argentina
Quando eu era criança em meados da década de 70, mesmo antes de aprender a ler e escrever, encantava-me com um livro que tínhamos em casa sobre a “Seleção Brasileira de Todos os Tempos”. Claro que o assunto era futebol e eu já conhecia a escalação de cor e salteado, além de cada uma das fotos, figuras e desenhos do livro. Lá estavam Pelé e Garrincha, Djalma e Nilton Santos, Ademir da Guia e Didi, Gilmar e Leônidas da Silva, entre outros. Fotos e desenhos das diversas Copas do Mundo e de jogos dessas lendas do futebol ilustravam o livro e um desses desenhos sempre me chamou atenção. Era o Garrincha, na Copa de 58, passando por um zagueiro vestido de vermelho, braço e perna esticados para tentar derrubar ou segurar o brasileiro. Era o zagueiro de uma estranha pátria chamada “País de Gales”. Um país que não aparecia nos mapas de geografia. Um país que, apesar de ter o nome “país” no próprio nome, não era exatamente um “país”. Mas que tinha uma seleção de futebol na Copa do Mundo. Como assim???
Centro de informações, em castellano e galês! (em Gaiman, cidade de colonização galesa na Patagônia, na Argentina)
Placa com informações turísticas de Gaiman, cidade de colonização galesa na Patagônia, na Argentina
Mais velho aprendi que o Reino Unido era um “grande país” formado pela união de quatro “países menores”: Inglaterra, Escócia, Irlanda do Norte e o tal País de Gales. Todos com uma certa autonomia interna, mas unidos sob um mesmo governo. Para complicar ainda um pouco a situação, ainda temos a Grã-Bretanha que é a mesma coisa que Reino Unido, mas sem a Irlanda do Norte. É mais uma denominação geográfica (da mesma ilha que dividem Escócia, Inglaterra e País de Gales) do que política. O fato é que, na prática, muita gente usa como sinônimos Inglaterra (apenas um dos países, o mais forte histórica e politicamente, que compõe o Reino Unido), Grã-Bretanha (a ilha) e Reino Unido. Por fim, para fechar esse assunto de futebol, esse esporte nasceu no Reino Unido e desde que a FIFA foi criada, os países que compõe o Reino Unido tem grande força no corpo diretivo dessa organização. Além disso, tem direito de participar de jogos internacionais (e da Copa do Mundo) representando seus próprios países, e não a união deles (o Reino Unido). Suas seleções só se juntam para disputar as Olimpíadas!
Gaiman, cidade de colonização galesa na Patagônia, na Argentina
O oásis verde ao redor de Gaiman, cidade de colonização galesa na Patagônia, na Argentina
Mudando de pato para ganso, o final do século XIX e início do século XX foi um período de muita migração, especialmente de países europeus e asiáticos para os novos e grandes (geograficamente falando!) países que se formavam. Estados Unidos, Canadá, Brasil, Argentina e Austrália receberam milhões de pessoas que vinham da Europa, Japão e Oriente Médio, imigrantes que ajudaram a formar e moldar a alma desses novos países, dando-lhes força braçal, cultural e intelectual para se tornarem as pátrias que hoje são. O Brasil, sem dúvida, foi um dos maiores destinos desses imigrantes, tendo recebido e formado enormes colônias de japoneses, árabes, alemães e italianos, e outras menores de ucranianos e espanhóis e até algumas curiosidades, como austríacos, finlandeses e mesmo americanos, entre outros. Sempre fui curioso pelo fato de não termos recebido imigrantes oriundos das ilhas britânicas, afinal de lá também saiu uma quantidade considerável de famílias em busca de uma nova pátria. Imaginava que a resposta seria a língua, que esses imigrantes preferiram países como EUA, Austrália e Canadá, onde também é falado o inglês.
Entrada de antigo túnel ferroviário em Gaiman, cidade de colonização galesa na Patagônia, na Argentina
Explorando um antigo e escuro túnel ferroviário em Gaiman, cidade de colonização galesa na Patagônia, na Argentina
O aspecto tétrico, quase assombrado do antigo túnel ferroviário de Gaiman, cidade de colonização galesa na Patagônia, na Argentina
Pois bem, vamos agora juntar o pato com o ganso com os 1000dias! Estamos agora viajando pela Argentina, um dos países que também recebeu grandes levas de imigrantes naquele período. Mais especificamente, estamos na Patagônia, deixando a Península Valdés e rumando para Bariloche, do outro lado do país. E eis que, aqui nessa região perdida do planeta com uma densidade demográfica parecida com da Amazônia (ou seja, não tem quase ninguém!), encontramos toda uma região colonizada por imigrantes do País de Gales! E não estou falando de uma vilazinha perdida não, são várias cidades, algumas grandes e com força econômica, como Trelew e a própria Puerto Madryn (os dois nomes vem da língua “welsh”, ou galês, falada lá no País de Gales). Não vieram para o Brasil, mas vieram para o nosso vizinho Hermano, aqui na distante Patagônia. E como todos sabemos, aqui na Argentina se fala o bom e velho espanhol e não o inglês. Então, que história é essa?
Explorando um antigo e escuro túnel ferroviário em Gaiman, cidade de colonização galesa na Patagônia, na Argentina
Uma luz ao final do túnel, em Gaiman, cidade de colonização galesa na Patagônia, na Argentina
Um grupo de estudantes se prepara para atravessar o antigo túnel ferroviário de Gaiman, cidade de colonização galesa na Patagônia, na Argentina
Bom, é mais ou menos o contrário do que eu pensei. Na verdade, minha teoria funcionou com os irlandeses e eles realmente inundaram os Estados Unidos. Mas com os galeses, não foi bem assim. Em 1864 líderes galeses cansados do jugo político e cultural inglês sob o qual viviam decidiram incentivar a imigração de seus compatriotas. A ideia era fundar uma pátria longe da pátria, um novo País de Gales, um lugar onde poderiam falar sua língua tranquilamente (o galês é a língua mais antiga da Europa e não tem nada a ver com o inglês!), assim como exercitar e eternizar sua própria cultura, cada vez mais reprimida em casa. Um dos pré-requisitos para escolher o destino dessa imigração era justamente um país onde não se falasse inglês, essa língua tão “opressora”. Após muita procura, que incluiu até a Palestina, acabaram escolhendo a Patagônia, estimulados pelo governo argentino que queria ocupar suas novas terras e dava incentivos para quem se aventurasse por essas terras inóspitas.
Exemplos da arquitetura singular de Gaiman, cidade de colonização galesa na Patagônia, na Argentina
Exemplos da arquitetura singular de Gaiman, cidade de colonização galesa na Patagônia, na Argentina
E lá vieram os galeses. Não sei por que o Brasil foi preterido, mas os primeiros anos incrivelmente difíceis devem ter feito os próprios galeses se perguntar: “Beth am Brasil?” (“porque não o Brasil?”, em galês). A Patagônia tinha um terreno e um clima muito piores do que tinham imaginado. Pior, nessa primeira leva de imigrantes, pouquíssimos eram agricultores, e era exatamente da agricultura que iriam depender para sua própria sobrevivência. Vários morreram de fome, especialmente crianças. Quem os salvou do fracasso total foram os índios patagônios, os tehuelches, com quem logo estabeleceram relações cordiais. Por fim eles se estabeleceram ao longo do vale do rio Chubut e construíram o primeiro sistema de irrigação da Argentina, criando um verdadeiro oásis verde com 10 quilômetros de largura em plena Patagônia, uma região semidesértica. Vinte anos mais tarde e a produção de trigo já era intensa e seus produtos ganhavam prêmios de qualidade nas feiras de Chicago e Paris. Com exceção de algumas cheias ocasionais do rio Chubut que destruíam casas e plantações, a colônia prosperou e se expandiu, criando “filiais” do outro lado da Patagônia, junto aos Andes. Mais gente chegava, não só do País de Gales, mas também oriundos de outros países. Calcula-se que o número total de imigrantes galeses combinadas todas as ondas migratórias tenha sido de pouco mais de 2 mil pessoas.
Jardim florido de Casa de Chá em Gaiman, cidade de colonização galesa na Patagônia, na Argentina
Jardim florido de Casa de Chá em Gaiman, cidade de colonização galesa na Patagônia, na Argentina
A ligação entre o novo País de Gales e a pátria-mãe se manteve forte até o início da 1ª Guerra Mundial. Depois disso a imigração cessou. Os laços foram se dissipando. Na Patagônia, a antiga língua foi sendo esquecida pelas novas gerações, mantida viva apenas pelos avós teimosos. A ligação cultural estava prestes a desaparecer quando a celebração do centenário da chegada dos primeiros imigrantes reacendeu o pavio. Missões culturais, festas e festivais trataram de reavivar a memória de todos. Aos poucos, foi a vez do turismo dar a sua forcinha. De repente, ficou “cool” falar galês. As escolas da língua se multiplicaram. Mesmo os descendentes de outros povos acharam por bem mergulhar nessa cultura. Na pequena Gaiman, cidade-símbolo da Argentina galesa de hoje, as escolas passaram a ensinar nos dois idiomas.
Tradicionais Casas de Chá são o principal atrativo de Gaiman, cidade de colonização galesa na Patagônia, na Argentina
Tradicionais Casas de Chá são o principal atrativo de Gaiman, cidade de colonização galesa na Patagônia, na Argentina
Chegamos ao dia de hoje com essa relação mais forte do que nunca. Há partidas de rugby entre times da Argentina e do País de Gales. Para quem quiser dançar tango em Londres, a melhor pedida é o centro de tradições galesas no centro da metrópole. Turistas vêm de todo o país e também de além-mar (especialmente galeses, claro!) para visitar pequenas pérolas como Gaiman, cidade com 5 mil habitantes em pleno vale do Chubut para poder apreciar um bom e legítimo chá inglês, que dizer, galês!
O belo rio que corta Gaiman, cidade de colonização galesa na Patagônia, na Argentina
Foi o que fizemos hoje! Depois do nosso último passeio na Península Valdés, dirigimos por cerca de 170 km deixando para trás Puerto Madryn e Trelew para seguir diretamente a charmosa Gaiman, ainda em tempo de nos esbaldar com um belo chá galês e seguirmos viagem pelo interior da Patagônia. Mas não foi só o chá que ocupou nosso tempo na pequena cidade, não.
Visita a uma Casa de Chá em Gaiman, cidade de colonização galesa na Patagônia, na Argentina
Casa de Chá galesa em Gaiman, cidade na Patagônia, na Argentina
Assim que chegamos ao Centro de Visitantes, já percebemos algo diferente. Todas as placas e informações são bilíngues, espanhol e galês. Como o conhecimento nosso nessa língua está meio enferrujado, ficamos mesmo no bom e velho espanhol. Nos armamos de mapas e folhetos e saímos a pé para um tour pela cidade. E a primeira coisa a fazer foi subir numa pequena colina de onde pudemos admirar a beleza da paisagem da região. O que mais chama a atenção é a ilha de verde em meio ao amarelo desértico da Patagônia. Aquele sistema centenário de imigração continua funcionando e as águas do rio Chubut deixam todo o vale verdinho. Lindo!
Receita de bolo galês em casa de Chá em Gaiman, cidade na Patagônia, na Argentina
Pequeno dicionário galês em Casa de Chá em Gaiman, cidade na Patagônia, na Argentina
A segunda atração foi atravessar um túnel construído sob aquela mesma colina que tínhamos subido. É um antigo trem ferroviário, centenário também, construído para ajudar a escoar a produção de trigo da região. A linha de trem também foi obra dos imigrantes, uma das primeiras do continente. Hoje não há mais trem, mas o túnel é usado por pedestres que querem cortar caminho e não tem medo de escuro. E que estejam portando boas lanternas, pois o túnel não tem iluminação própria e, com seus 300 metros de extensão em curva, fica escuro como breu. É até meio amedrontador caminhar muito para dentro, especialmente para quem não tem lanternas como nós. Fizemos nossas fotos, brincamos com o eco e voltamos pela mesma entrada que tínhamos entrado. Para seguir mais adiante, só fazendo uso do tato. E como a Fiona nos esperava daquele mesmo lado, por ali voltamos. Ali estava um grupo de estudantes, devidamente acompanhados pelo professor, prontos para a travessia. Uma farra só, diversão e aula de história juntos. Teoria e prática, como sempre deveria ser!
Provando um tradicional chá galês, em Gaiman, cidade na Patagônia, na Argentina
Deliciosos pães e bolos galeses servidos com chá em restaurante em Gaiman, cidade na Patagônia, na Argentina
Bom, do túnel para o centro da cidade. Especialmente nesses quarteirões centrais, a arquitetura é toda charmosamente galesa. Casas de tijolos envelhecidos, jardins floridos e muito bem cuidados, muitas placas escritas naquele idioma. A maioria delas anunciando a principal atração da cidade: as casas de chá. Cada uma mais atrativa do que a outra.
Interior de Casa de Chá em Gaiman, cidade de colonização galesa na Patagônia, na Argentina
Provando um tradicional chá galês, em Gaiman, cidade na Patagônia, na Argentina
Acabamos escolhendo uma e entramos. Foi como estar na Inglaterra (é o mais perto que conheço do País de Gales!). Pinturas e quadros decorativos na parede, assim como cardápios, todos nos lembram da pátria-mãe. O chá, acompanhado de uma verdadeira profusão de pães, tortas e doces, é uma delícia. Uma verdadeira refeição. Nós nos refestelamos. E aproveitamos para aprender umas poucas palavras em galês. Não é fácil. A quantidade de “w”, “y” e “LL” nas palavras impressiona. Acho que são as principais letras do alfabeto! E as palavras se juntam entre si, formando palavras maiores, gigantescas, impronunciáveis. Pelo menos para simples mortais brasileiros como nós. Uma verdadeira sopa de letrinhas. Enfim, foi uma delícia ter passado por aqui, o chá, a arquitetura, o verde dos jardins, a cultura e a história. Estávamos prontos e reabastecidos para a jornada que se seguiria: cruzar a patagônia de leste a oeste, metade hoje, metade amanhã, quando chegaremos a Bariloche. Vamos que vamos!
Hora do chá em Gaiman, cidade de colonização galesa na Patagônia, na Argentina
Sempre aprendendo!!! Não sabia da colonização galesa na Argentina. Temos uma amiga argentina que conhecemos aqui em Ubatuba que nasceu e sempre viveu em Trelew e nunca me falou sobre isso. Vou questioná-la rsrsrsrs ele somente fala que é muuuuuito frio.....
Resposta:
OI Mabel
para nós também foi novidade essa história dos galeses. Foi muito legal passar por lá, aprender e ainda tomar um legítimo chá!
vamos ver se essa sua amiga te conta detalhes interessantes dessa história. Depois vc nos conta!
Abs
P.S Comparado com Ubatuba, quase todo o resto do mundo é frio, hehehe
Muito interessante este post, dá vontade de voltar com toda calma do mundo para rodar a Patagônia. Ficamos com água na boca! Beijos!
Resposta:
Olá amigos!
Pois é, a patagônia, do Atlântico aos Andes, é um show e cheia de surpresas. Para sorte nossa, não é tão longe assim, quando comparamos com o Alaska ou com a Europa. Mas fácil planejar e dar um "pulinho" lá de carro, né?
Um grade abraço para vocês
Gostei da história dos Galeses.
Que pena que não vieram também para o Brasil.
Resposta:
Pois é Virgilio
Iria ser mesmo ótimo ter uma Gaiman aqui perto de Curitiba para irmos lá passear no fim de semana e tomarmos um legítimo chá galês!
Um abraço
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