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Médicos, Mojitos e Mais História - Blog do Rodrigo - 1000 dias

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Médicos, Mojitos e Mais História

Cuba, Havana

Confraternização em boteco de Havana, capital de Cuba

Confraternização em boteco de Havana, capital de Cuba


Nossa primeira missão no dia de hoje em Havana foi encontrar um médico para a Ana. Depois dos últimos mergulhos em Little Cayman o ouvido dela começou a doer e a medicação que temos não estava fazendo muito efeito. Além disso, como vamos mergulhar na Isla de La juventude muito em breve, queríamos saber se ainda dava para fazer algo.

Antiga torre de fortaleza em Havana, capital de Cuba

Antiga torre de fortaleza em Havana, capital de Cuba


Cuba, como todos os países, tem suas virtudes e defeitos. Entre as maiores virtudes, cantadas em prosa e verso pela esquerda latino-americana, estão seu sistema de educação e de saúde. Às vésperas da revolução, no final da década de 50, o índice de analfabetismo no país era deprimente, bem acima dos 50%. Com o triunfo dos rebeldes, em 1959, numa grande cruzada de alfabetização idealizada por Che Guevara, centenas de voluntários percorreram todo o país para ensinar as pessoas a ler e escrever. O resultado foi fantástico: em apenas um ano, praticamente não havia mais analfabetos no país. Hoje, em flagrante contraste com os outros países latinos, quase toda a população tem o curso ginasial completo, a grande maioria terminou o 2º grau e uma boa parte tem curso universitário.

Brasil e Cuba, povos irmãos! (em Havana - Cuba)

Brasil e Cuba, povos irmãos! (em Havana - Cuba)


Na área da saúde, a assistência médica é garantida para todos e, pasmem, existe uma categoria de turismo no país que é chamada de “turismo médico”. Até europeus vem para cá atrás de operações muito mais baratas que em seus países de origem. Isso vem mudando nos últimos anos e o tratamento de estrangeiros já não é a mamata que era até dez anos atrás. Existe o serviço, mas paga-se por ele. Eu e a Ana fomos diretamente a uma clínica para onde são enviados os turistas. Não demorou muito e fomos atendidos. A falta de equipamentos modernos é contrabalançada com o profissionalismo dos médicos. O nosso receitou novos remédios e proibiu a Ana de mergulhar por um bom tempo. No final, pagamos a conta e compramos os remédios: preços comparáveis aos que teríamos no Brasil.

Museu de la Revolución, em Havana, capital de Cuba

Museu de la Revolución, em Havana, capital de Cuba


Hora então de voltar ao centro. Fomos diretamente ao Museu da Revolução, que ontem estava fechado no dia internacional de fechamento de museus (segunda-feira). A Ana, Rafa e Laura entraram, para ver fotos e textos vangloriando o movimento que deu fim à ditadura sangrenta de Batista na década de 50 enquanto eu fiquei do lado de fora, numa sombra gostosa, lendo sobre a história cubana. Resolvi aproveitar esse tempo para isso, já que da outra vez que estive aqui já tinha repassado o museu de cima a baixo. Na minha frente, o prédio envidraçado que guarda e expõe o Granma, o iate (ou banheira) que trouxe os 82 revolucionários do México para Cuba em Dezembro de 56, iniciando a guerrilha que, dois anos de lutas mais tarde, triunfaria. Esse início (a viagem) não foi fácil. Oitenta e duas pessoas apinhadas num barco de 18 metros concebido para transportar 12 pessoas. Como diz o ditado, “o que não mata, fortalece”.

Rua turística no centro de Havana, capital de Cuba

Rua turística no centro de Havana, capital de Cuba


Mas a minha leitura referia-se a outra parte da história, um pouco mais antiga. Em meados do séc XIX a Espanha havia sido expulsa de todas as suas ex-colônias continentais, restando-lhe as ilhas caribenhas de Cuba e Porto Rico, onde se agarrava com unhas e dentes. Em Cuba, parte da aristocracia local ainda apoiava os laços com a Espanha, enquanto uma outra parte defendia abertamente a união com os Estados Unidos. Ambos temiam que uma guerra de independência levaria ao mesmo que ocorreu no vizinho Haiti, uma sangrenta revolta de escravos contra seus opressores brancos. Aliás, a ideia de se juntar aos EUA tinha como uma das razões exatamente isso: manter o regime escravocrata, que então vigia nos estados do sul daquele país.

Rua não turística no centro de Havana, capital de Cuba

Rua não turística no centro de Havana, capital de Cuba


Mas havia também aqueles que defendiam a independência e as guerras começaram na década de 60. Por quase 40 anos houve lutas, os principais líderes sendo capturados e executados pelas tropas espanholas. Nesse meio tempo, os EUA fizeram nova oferta de compra da ilha, rejeitado pela Espanha. Finalmente, já perto do final do século, finalmente parecia que os rebeldes estavam perto da vitória, a monarquia espanhola em grave crise na Europa. Mais uma vez o Tio Sam tentou comprar a ilha, mas o preço ainda estava baixo. Enviou então um barco de guerra ao porto de Havana, para proteger interesses americanos na ilha em guerra. Misteriosamente, o Maine, explodiu quando estava ancorado perto do porto, causando mais de 200 mortes. Apesar da Espanha negar qualquer participação na explosão, era o motivo que os EUA queriam para declarar guerra ao país ibérico. A estranha coincidência na explosão do Maine é que não havia nenhum oficial à bordo, apenas marujos entre os mortos. Na versão ensinada pela Cuba socialista de hoje, foram os próprios americanos que explodiram seu barco, com o intuito de terem uma razão para tomarem a ilha. O monumento construído em honra aos mortos do barco, construído no início do século XX, foi alterado após a revolução e hoje tem uma placa lá que defende a versão do “auto-atentado”.

Preparando os famosos morritos! (em Havana, capital de Cuba)

Preparando os famosos morritos! (em Havana, capital de Cuba)


Bom, os EUA entraram em guerra e a venceram rapidamente. O prêmio foi não apenas Cuba, mas também Porto Rico e as Filipinas. A antiga colônia inglesa agora era, ela mesmo, uma “metrópole”. Aqui em Cuba, na cerimônia oficial de rendição espanhola em Santiago de Cuba, os americanos nem permitiram que os generais cubanos da guerra de independência, com exércitos formados por milhares de negros, participassem do evento ou das negociações. Ocorre que, poucos meses depois, também as tropas do novo exército invasor tiveram que bater em retirada, batidos pela altíssima mortalidade das doenças tropicais.
O arranjo seguinte concedeu à Cuba a independência (ao contrário do que ocorreu com Porto Rico e Filipinas), mas com uma ridícula cláusula constitucional que garantia aos EUA o “direito de intervir no país sempre que achasse necessário”. Com base nessa cláusula, poucos anos mais tarde os EUA ocuparam a base de Guantânamo, de onde não saíram até hoje. Pelo menos a tal cláusula foi abolida na época de Roosevelt, já na década de 30.

Morritos prontos para serem apreciados, em boteco tradicional de Havana, capital de Cuba

Morritos prontos para serem apreciados, em boteco tradicional de Havana, capital de Cuba


Terminada a minha aula de história e o passeio pelo museu revolucionário da Ana, Laura e Rafa, seguimos para novo passeio à pé pelo centro da cidade, região do Capitólio e Parque Central. O Capitólio é uma réplica de seu congênere em Washington, mas hoje se encontra em reformas, fechado para visitas. No centro, novas caminhadas pelas ruas turísticas e também pelas não turísticas, cada uma com suas atrações e charme. Entre eles, bares tradicionais onde se pode degustar uma das grandes invenções cubanas: o Mojito! Esse é apenas um dos muitos drinques hoje famosos internacionalmente que foram inventados por aqui (tem também o “Cuba Libre”, o “daiquiri”, entre outros...). Tomamos os mijitos em companhia de um simpático casal de cubanos que nos abordaram durante nosso passeio. Como eles, há centenas de outros cubanos que se aproximam de turistas e, mistura de guias, curiosos ou amigos, acabam descolando algum dinheiro, refeição, bebida ou apenas algumas horas de conversa. E nós, os turistas, ganhamos alguns insights da vida cotidiana cubana, além da boa conversa. Troca justa, quase sempre.

Despedindo-se da simpática e octagenária Margarita, dona da casa onde ficamos em Havana - Cuba

Despedindo-se da simpática e octagenária Margarita, dona da casa onde ficamos em Havana - Cuba


De volta para casa, uma longa e esclarecedora conversa com a nossa querida Margarita sobre como foi a mudança da vida após a revolução e sobre como funcionam as coisas hoje aqui no país. Assuntos que vou tratar durante os posts seguintes. Soubemos também que, naquela mesmo mesa que conversávamos, muitas vezes se sentaram também o Fidel e o Che, amigos do sogro médico da Margarita. Fomos dormir tentando imaginar essas cenas. E também preparados para acordar de madrugada, pois teremos de chegar bem cedo ao aeroporto onde voaremos para a Isla de La Juventud, na costa sul do país.

Cuba, Havana,

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Blog da Ana Propaganda pró-revolução nas ruas de Camaguey, em Cuba

Viva La Revolución!

Comentários (1)

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  • 02/03/2012 | 16:57 por Guto Junqueira

    Rodrigo, bem legal as informações sobre Cuba, fiquei torcendo pra vc fazer contato com a blogueira Yoani ... Espero que o ouvido da Ana tenha sarado, abraços, Guto

    Resposta:
    Oi Guto

    Nós até pensamos em tentar fazer esse contato. Mas eu fiquei na neura de que ele é vigiada 24 h por dia e que depois a polícia viria encher o nosso saco, além de ir atazanar ela também. Mas que ficamos na vontade, isso ficamos!

    A Ana melhorou sim, mas nada de mergulho para ela...

    Abraços

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