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Karina (27/09)
Olá, também estou buscando o contato do barqueiro Tatu para uma viagem ...
ozcarfranco (30/08)
hola estimado, muy lindas fotos de sus recuerdos de viaje. yo como muchos...
Flávia (14/07)
Você conseguiu entrar na Guiana? Onde continua essa história?...
Martha Aulete (27/06)
Precisamos disso: belezas! Cultura genuína é de que se precisa. Não d...
Caio Monticelli (11/06)
Ótimo texto! Nos permite uma visão um pouco mais panorâmica a respeito...
A Fiona está cada vez mais craque para rodar na neve! (na região do Mount Shasta, na Califórnia, nos Estados Unidos)
Ontem pela manhã, depois de muito tentar por email, twitter e facebook, finalmente, conseguimos entrar em contato com o Luis, da Lost World Expedition, e marcamos para nos encontrar em um café na praça central de Arcata. Pois é, a simpática cidade estudantil, diferentemente de quase todas as cidades americanas, tem uma praça central, sinal de que estamos mais pertos da América Latina!
Encontro com o casal da expedição Lost World, em Arcata, na Califórnia, nos Estados Unidos
Foram quase duas horas de deliciosa conversa com o casal que iniciou sua viagem um pouco antes de nós. O interessante é que o Luis tem praticamente a minha idade e a Lace é da idade da Ana. Começaram pelos Estados Unidos e seguiram para o sul. Vão num ritmo mais lento que o nosso e, ao menos uma vez por ano, voam de volta para casa, preferencialmente para aproveitar as festas de Halloween e Thanksgiving. O carro deles os espera no Chile e, não vai demorar muito, chegarão ao Brasil. Trocamos muitas experiências e casos e deu para perceber que, por serem americanos dirigindo um carro americano, as coisas são bem mais complicadas para eles, especialmente em algumas fronteiras. E não é pela língua não, pois o Luis fala muito bem o espanhol. Já nós, seja pela sorte, seja por sermos brasileiros, o fato é que não tivemos dificuldade nenhuma nas fronteiras latinas. Vamos ver na volta...
Bela cachoeira no caminho entre o Mount Shasta e o Mount Lassen, ena Califórnia, nos Estados Unidos
Já era mais de uma da tarde quando pegamos estrada. Nosso destino, agora, era o interior da Califórnia. Íamos para a região da Sierra Nevada, uma cadeia de montanhas no sentido norte-sul, quase na fronteira com Nevada, onde se encontram algumas das mais belas paisagens americanas. Por exemplo, lá estão o Sequoia National Park, que já visitamos, o Yosemite, o segundo parque nacional do país, e o Lake Tahoe, o maior e mais alto lago alpino dos Estados Unidos, cercado de resorts de esqui e altas montanhas. Nossa ideia é dar uma boa rodada por lá antes de voltarmos ao litoral, para a cidade de San Francisco.
Cruzando a Sierra Nevada em direção à mount Shasta, na Califórnia, nos Estados Unidos
Mas, para chegar lá, tínhamos primeiro de cruzar a Sierra Nevada. Olhando no mapa, são várias as estradas que cruzam essas montanhas, mas isso só vale para o verão. Basta dar a primeira nevada da estação e as estradas começam a fechar, uma a uma. Quando mais perto do fim do ano, mais difícil cruzar a tal “Sierra” e maior a volta que tem de se dar, ou para o sul ou para o norte.
Por detrás das nuvens aparece o gigantesco Mount Shasta, com mais de 4.300 metros de altitude, na Califórnia, nos Estados Unidos
Por detrás das nuvens aparece o gigantesco Mount Shasta, com mais de 4.300 metros de altitude, na Califórnia, nos Estados Unidos
Bom, se já é difícil hoje, imagina na metade do século XIX! Pois foi exatamente nessa época que se deu a grande migração leste-oeste, dezenas de milhares de pioneiros tentando chegar ao Oregon e Califórnia. Foi o auge do chamado “Manifest Destiny”, uma doutrina que pregava um direito (ou obrigação) quase divino dos americanos ocuparem o continente do Atlântico ao Pacífico. O que estivesse no caminho, como índios, mexicanos ou bisões, eram meros pequenos obstáculos a serem superados, civilizados, conquistados ou extintos. A marcha inexorável da civilização não poderia ser detida!
As águas puras que saem de antigos túneis de lava e dão início ao rio Sacramento, em Mount Shasta, na Califórnia, nos Estados Unidos
Aqui nasce o rio Sacramento, em Mount Shasta, na Califórnia, nos Estados Unidos
Esse movimento acelerou-se mais ainda com a descoberta de ouro na California, dando início à primeira grande “gold rush” da América do Norte, cinquenta anos antes daquela outra de que já tanto falamos, a Klondike Gold Rush, em direção ao norte do Canadá e Alaska. A grande barreira à essa migração não eram os índios, mas exatamente a Sierra Nevada. Para evitar a perigosa travessia, a rota principal seguia pelo norte, acima da cordilheira e, já perto do litoral é que ela apontava para o sul. Quem descobrisse uma rota alternativa e mais direta certamente poderia ganhar muito dinheiro com esse “conhecimento”.
Impressão digital de um anjo, em Mount Shasta, na Califórnia, nos Estados Unidos
E foi o que aconteceu. Um dos pioneiros, viajando sozinho, conseguiu fazer uma rota mais direta. Escreveu um guia sobre ela e passou a propagandeá-lo. No verão seguinte, um grupo de mais de 80 pessoas, em suas grandes carroças e levando seus animais, resolveu cortar seu tempo de viagem em um mês e seguir pela nova rota. Era o “Donner Party”.
Trilha ao pés do Mount Shasta, na Califórnia, nos Estados Unidos
Os problemas começaram desde o início, com brigas entre as diversas famílias. Ao cruzarem o deserto na região de Salt Lake City, perderam boa parte do gado que levavam, seja pelos rigores do clima, seja por índios que os roubaram. Pior, seguindo lentamente em carroças, se atrasaram mais do que deviam e chegaram à Sierra Nevada já no início do inverno. São literalmente centenas de montanhas com altitude superior aos 3.700 metros e mesmo para quem conhece a região, é fácil se perder. Imagina para quem nunca havia estado lá, seguindo o guia de uma pessoa que só havia passado por lá uma vez. O resultado não poderia ter sido mais trágico...
Caminhando pela floresta nevada do Mount Shasta, na Califórnia, nos Estados Unidos
A neve os pegou lá no alto e as carroças não saiam mais do lugar. Estavam presos em uma das passagens que hoje leva o nome de “Donner Pass”. Aí tiveram de passar o inverno. O gado morreu e a comida acabou. As pessoas começaram a morrer. Um grupo tentou seguir adiante, mais leve, para pedir ajuda. Perderam-se também. Enquanto isso, os ânimos se acirraram e, em uma briga, uma pessoa foi morta. Como julgar o culpado? Afinal, já tinham cruzado a “Continental Divide” (a linha imaginária que separa as águas que seguem para o Pacífico ou para o Atlântico) e ali era, ao menos em teoria, território mexicano. Foi só no ano seguinte que a guerra entre EUA e México aconteceria e toda aquela região, incluindo a Califórnia, passaria a ser americana. Alguns quilômetros antes e o culpado seria enforcado. Mas aqui... resolveram expulsá-lo do grupo, sem armas e sem comida, naquele território hostil.
As pegadas servirão para acharmos o caminho de volta na floresta do Mount Shasta, na Califórnia, nos Estados Unidos
Bom, como eu tinha dito, esse era o menor dos problemas. Tanto o grupo que partiu em busca de ajuda como aquele que ficou esperando estavam em situação desesperadora, completamente sem comida. Com as pessoas morrendo, acabaram recorrendo ao canibalismo. De preferência, escolhiam aquelas pessoas com quem tinham desenvolvido desavenças durante a viagem. Aos amigos, o enterro, aos inimigos, a panela. Tudo pela sobrevivência. Quando finalmente foram salvos, já no início da primavera, apenas a metade das pessoas havia sobrevivido, em um dos episódios mais macabros da travessia da Sierra Nevada.
Caminhando pela floresta nevada do Mount Shasta, na Califórnia, nos Estados Unidos
Ainda bem que hoje já não é tão complicado. Eu e a Ana enfrentamos a neve e a neblina, mas não precisamos recorrer à antropofagia. Vamos ver como será o caminho de volta, mais ao sul, onde as passagens são mais complicadas. Nós atravessamos na parte norte da Sierra nevada, em direção ao Mount Shasta. Antigo vulcão, é a segunda montanha mais alta dos Estados Unidos (sem contar o Alaska!) e nós ficamos na pequena cidade de mesmo nome, bem abaixo da montanha.
Inventando uma trilha pela neve da floresta do Mount Shasta, na Califórnia, nos Estados Unidos
Nós chegamos lá de noite, sem conseguir ver a paisagem. Hoje cedo, o céu estava azul, mas o Mount Shasta coberto pela névoa. Nós fizemos uma rápida visita ao parque municipal da cidade, onde nasce uma água puríssima debaixo da rocha de granito. Ele vem pelos antigos túneis cavados pela lava. Segundo os cientistas, ele leva 50 anos entre cair como neve, lá no alto da montanha, e chegar ali na nascente. Cinquenta anos sendo filtrada, hmmmm, uma delícia! É a nascente do importante rio Sacramento.
A neve cai durante passeio pela floresta gelada do Mount Shasta, na Califórnia, nos Estados Unidos
Dali seguimos para a montanha, a Fiona cada vez mais craque nas estradas de gelo e neve. A estrada chega acima dos 2 mil metros de altitude, de onde sai a trilha para o alto da montanha. Nessa época do ano, com tanto gelo e neve, nem pensar! Mas podíamos caminhar por ali mesmo, em meio à floresta de pinheiros completamente branca pela nevasca dos últimos dias. Com tanta neve, nem se via a trilha. Mas, não tinha problema, fizemos nosso próprio caminho, serpenteando entre as árvores. Depois, para voltar, era só seguir nossas próprias pegadas. Sem dúvida, a Sierra Nevada, com a Fiona ali por perto e num dia de céu azul, estava muito menos hostil do que há 165 anos.
A Fiona está cada vez mais craque para rodar na neve! (na região do Mount Shasta, na Califórnia, nos Estados Unidos)
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