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Sheet´ka

Alaska, Sitka

Centro de Tradição e Cultura Indígena, em Sitka, no sudeste do Alaska

Centro de Tradição e Cultura Indígena, em Sitka, no sudeste do Alaska


Sitka foi a primeira cidade da era colonial no sudeste do Alasca. Quando o homem branco aportou nestas águas nem imaginava que iriam encontrar um povo bravo e guerreiro, soberano e orgulhoso de sua cultura e origem. O Kiksadi Clan, pertencente à etinia Tinglít, batizou a cidade Sheet´ka, que significa “a terra por detrás das pequenas ilhas”.

A tranquila baía em frente ao local da batalha entre russos e Tinglits, em parque de Sitka, no sudeste do Alaska

A tranquila baía em frente ao local da batalha entre russos e Tinglits, em parque de Sitka, no sudeste do Alaska


Centro de Tradição e Cultura Indígena, em Sitka, no sudeste do Alaska

Centro de Tradição e Cultura Indígena, em Sitka, no sudeste do Alaska


Alexander Baranov, gerente da Russian-American Company, foi o primeiro a ter este encontro surreal com os nativos que há muito chamavam Sheet´ka de lar. Vocês conseguem se colocar no lugar dele? O ano era 1799, e o objetivo posto pela grande companhia, aumentar “a produção” de pele de lontras, uma das mais isolantes e quentes de qualquer mamífero marinho.

As tradicionais Babuskas russas, em loja de Sitka, no sudeste do Alaska

As tradicionais Babuskas russas, em loja de Sitka, no sudeste do Alaska


Ele construiu um forte ao norte da atual cidade e os Tinglíts logo perceberam que não seria um bom negócio para eles, pois entenderam que se submeter aos russos significaria trabalho escravo caçando os pobres animais. Em 1802 os Tinglíts destruíram o forte e em 1804 sofreram uma forte retaliação dos russos. Mesmo preparados com um grande forte e boas estratégias de guerrilha, os nativos foram obrigados a bater em retirada. Desde então Sitka prosperou e se tornou uma das principais cidades da costa oeste, recebendo o apelido de Paris do Pacífico. A propósito, várias cidades deste continente adoram este apelido... A Paris do Caribe, a Paris do Norte... já vimos umas 4 ou 5 “ex-parises” pela América.

A famosa Igreja Ortodoxa Russa, em Sitka, no sudeste do Alaska

A famosa Igreja Ortodoxa Russa, em Sitka, no sudeste do Alaska


Quando os russos quase extinguiram as lontras-marinhas perderam o interesse pela região (no caso o Alasca) e decidiram vendê-la aos Estados Unidos. A população americana achou um péssimo negócio, um monte de terras que não serviriam para nada, compradas por 7,2 milhões de dólares! Enfim, a negociação seguiu e em 18 de outubro de 1867, no Castle Hill aqui em Sitka, foi feita a cerimônia de transferência de terras da Rússia para os Estados Unidos. Não demorou muito e os americanos já descobriram a maior riqueza da região, o salmão! Novamente, onde há salmão há também ursos, águias, leões marinhos, lontras-marinhas e baleias em um cenário de vulcões e ilhas em pleno Pacífico.

Paisagens magníficas, apesar do tempo nublado na Inside Passage, entre Junau e Sitka, no sudeste do Alaska

Paisagens magníficas, apesar do tempo nublado na Inside Passage, entre Junau e Sitka, no sudeste do Alaska


Embora seja um pequeno desvio no roteiro da Inside Passage, Sitka é uma das cidades chaves para entendermos como tudo começou. Os ferries para Sitka não são muito frequentes e no trânsito entre Juneau e Ketchikan conseguimos programar apenas um dia para a cidade.

Chuva na Inside Passage, entre Junau e Sitka, no sudeste do Alaska

Chuva na Inside Passage, entre Junau e Sitka, no sudeste do Alaska


A temporada está no fim, então avistar algum desses animais é um golpe de sorte. Nós chegamos no ferry às 12h e seguimos direto para o sul da ilha direto para o Whale Park. Localizado em uma baía o parque promete ser um dos melhores pontos para visualização de baleias e outros animais marinhos, mas o mau tempo não colaborou.

Todos os mamíferos que costumam frequentar os mares de Sitka, no sudeste do Alaska

Todos os mamíferos que costumam frequentar os mares de Sitka, no sudeste do Alaska


Continuamos na estrada em direção ao Green Lake e descobrimos a Herring Cove Trail. Uma trilha de pouco mais de 2 km em meio a floresta úmida que cobre todo o sudeste do Alasca. Nós brasileiros, tão orgulhosos da nossa imensa Amazônia, não pensamos que possa existir outra floresta úmida pelo mundo. Obviamente esta floresta não é nem um pouco parecida com a Floresta Amazônica, o clima temperado faz predominar espécies como a spruce tree, o cedro e outras variedades de coníferas.

Caminhada em floresta de Sitka, no sudeste do Alaska

Caminhada em floresta de Sitka, no sudeste do Alaska


Não podemos comparar a diversidade da floresta tropical, porém a sua beleza e riqueza está em outros detalhes que muitas vezes passariam despercebidos por olhos menos treinados. Cedros de 200, 300 ou até 500 anos crescem nestas florestas em um solo rico em nutrientes, mas raso o suficiente para árvores de grande porte simplesmente não suportarem o próprio peso e despencarem. Árvores caídas se tornam casas para os animais, ninhos para outras espécies de árvores, fungos, cogumelos e um ecossistema totalmente diferente, mas ainda assim impressionantemente diverso.

A verdejante rain forest de Sitka, no sudeste do Alaska

A verdejante rain forest de Sitka, no sudeste do Alaska


Subimos a trilha maravilhados com o tamanho das árvores que nos rodeavam, o vermelho, terracota verdejantes gritavam aos nossos olhos dizendo: “aqui no Alasca também existe floresta!” Que valente e colorida pode ser esta floresta úmida que luta para sobreviver ao frio, fortes tempestades da costa pacífica e ainda cresce forte como esta. Impressionante!

Atravessando riacho em rain forest de Sitka, no sudeste do Alaska

Atravessando riacho em rain forest de Sitka, no sudeste do Alaska


Riacho de águas geladas em floresta de Sitka, no sudeste do Alaska

Riacho de águas geladas em floresta de Sitka, no sudeste do Alaska


Ainda na esperança da chuva parar seguimos em busca de outras trilhas e descobrimos o grande Lago Azul, reserva de água de toda a cidade, em uma paisagem montanhosa perfeita para vários trekkings, em dias mais secos.

Blue Lake, reservatório de água de Sitka, no sudeste do Alaska

Blue Lake, reservatório de água de Sitka, no sudeste do Alaska


De volta à cidade, gaiolas de pesca do gigante King Crab, piers das grandes empresas de pesca de Halibut, o enorme linguado das águas geladas do Alasca e barcos pesqueiros aportados reafirmam a tradição e a forma da economia da pesca que sustenta toda a região.

Armadilhas para carngueijos, em Sitka, no sudeste do Alaska

Armadilhas para carngueijos, em Sitka, no sudeste do Alaska


A movimentada marina de Sitka, no sudeste do Alaska

A movimentada marina de Sitka, no sudeste do Alaska


Ainda chovendo, saímos caminhando pela cidade em busca das heranças russas das mais originais e pristinas em toda América. St Michaels, a primeira Igreja Ortodoxa Russa, réplica da original destruída por incêndio em 1966, com seu peculiar cruz e teto abobadado. Em frente a primeira igreja protestante e uma das primeiras moradias e comércios russos na cidade. O Castle Hill sinais do primeiro palácio construído pela Companhia Russa-Americana para o gerente e sua esposa, que guardava uma coleção de arte e roupas tinglíts para apresentar aos seus convidados, aculturando os forasteiros à cultura nativa.

A famosa Igreja Ortodoxa Russa, em Sitka, no sudeste do Alaska

A famosa Igreja Ortodoxa Russa, em Sitka, no sudeste do Alaska


Ainda cruzamos o cemitério russo e a Sheet´ka Kwaán Naa Kahídi, sala de reuniões dos povos tinglíts construída no estilo tradicional, em madeira e com totens e painéis esculpidos em madeira.

Centro de Tradição e Cultura Indígena, em Sitka, no sudeste do Alaska

Centro de Tradição e Cultura Indígena, em Sitka, no sudeste do Alaska


Perdemos o horário para o Sitka Historical Museum, mas chegamos a tempo de contemplar a paz do antigo e sangrento campo de batalha dos tinglíts e russos no Sitka National Historical Park. A cada 100m encontramos um totem contando uma história ou uma lenda, como a do menino que nasceu com duas flechas em sua cabeça.

Observando de perto um dos muitos totens em parque de Sitka, no sudeste do Alaska

Observando de perto um dos muitos totens em parque de Sitka, no sudeste do Alaska


“Um dia sua mãe o enfrentou e ele disparou as flechas e a matou, fugindo para a floresta. A criança sobreviveu matando animais e outros homens de aldeias vizinhas, até que foi capturado por seu tio, que o matou e queimou. As cinzas deste garoto tão perverso, porém, não iriam descansar. Elas foram a origem dos pernilongos que até hoje perturbam a todos!”

Totem marca o local onde estava a fortaleza Tinglit em parque de Sitka, no sudeste do Alaska

Totem marca o local onde estava a fortaleza Tinglit em parque de Sitka, no sudeste do Alaska


Hahaha! Adorei a lenda! Terminamos a caminhada já na penumbra, às margens do mar e do rio, águias, gaivotas e um cheiro de peixe podre. Pobres salmões, nadaram tanto e morreram na praia.

Águias e gaivotas compartem os salmões que sobem por riacho em parque de Sitka, no sudeste do Alaska

Águias e gaivotas compartem os salmões que sobem por riacho em parque de Sitka, no sudeste do Alaska


Um dia intenso e difícil de ser traduzido em algumas poucas palavras. Russos, tinglíts, americanos e quem mais quiser participar desta grande miscelânea cultural que forma a sempre capital histórica do Alasca.

Totem em meio a mata de parque de Sitka, no sudeste do Alaska

Totem em meio a mata de parque de Sitka, no sudeste do Alaska

Alaska, Sitka, história, Tinglits, Rússia

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Sitka: Russos na América

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