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Viajando em Terras Junqueiras - Blog do Rodrigo - 1000 dias

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Viajando em Terras Junqueiras

Brasil, Minas Gerais, São Thomé das Letras

Deixamos hoje São Thomé. Inicialmente, nossa idéia era ir para Airuoca e Vale do Matutu. Já faz uns 15 anos que quero ir para lá. Mas acabamos nos enrolando em São Thomé, para variar, e decidimos mudar o trajeto: primeiro Caxambu e depois Airuoca.

A enrolação em São Thomé foi porque acordamos tarde. Na noite anterior, na nossa perambulação pela night thomesina, a Ana pode colocar em prática seu curso de primeiros socorros. Uma garota desmaiou e ela liderou os esforços para socorrê-la. Como eu sempre soube: estou em boas mãos!

Saímos de São Thomé em direção à Cruzília, no sul. São 24 km de dura estrada de terra. Não melhorou nada desde que passei por essa mesma estrada há 21 anos, de Monza, já de noite e após longa viagem desde o Espírito Santo com o Haroldo. Lembro que não chegava nunca, um inferno. Hoje fizemos o mesmo trecho de dia, no conforto da Fiona.

A beleza da paisagem campestre embalou minha viagem pelo passado. Primeiro este mais recente, de duas décadas atrás. Depois um pouco mais distante, na primeira metade do séc.XIX. Naquela época quase todas estas terras estavam nas mãos da família Junqueira, então na sua segunda e terceira gerações no país. Toda a área entre Cruzília, São Thomé e Carrancas. Já pensou? Todas essas cachoeiras da minha família?

O primeiro Junqueira no país, João Francisco, fez fortuna na mineração e aplicou seu dinheiro em terras da região. A segunda geração multiplicou essa fortuna e posse de terras. Naquela época, a distribuição de sesmarias entre os mais abonados e empreendedores era prática comum. O maior expoente da segunda geração foi o Barão de Alfenas, inimigo político de D. Pedro I e amigo pessoal de D. Pedro II. São Thomé ficava em suas terras. Foi ele que terminou a construção da igreja matriz da cidade, iniciada por seu pai.

Mas o fato histórico que mais ocupou a minha mente foi o fatídico episódio conhecido como Levante da Bella Cruz. Os Junqueiras, como grandes proprietários de terras também eram proprietários de grande quantidade de escravos. E na fazenda Bella Cruz, exatamente 50 anos antes da abolição da escravidão, em 13 de Maio de 1833, os escravos se revoltaram e trucidaram vários Junqueiras, entre homens, mulheres, velhos e crianças. A idéia era matar todos e qualquer branco em que eles pusessem as mãos. Matavam a porretadas, golpes de foice e facão. Vários foram mortos em seus quartos, último refúgio antes de serem capturados. Foi a maior revolta de escravos em tempos imperiais no sul do Brasil.

A repressão ao movimento foi rápida. Todos os líderes que foram capturados ainda vivos foram enforcados. De qualquer maneira, foi um episódio que marcou a história da família e mesmo do país daqueles tempos. Hoje, 177 anos após este fato, passando pelas terras aonde isto aconteceu, não pude deixar de ficar pensando, tentando imaginar aquelas tensas horas da revolta, desde o momento em que o primeiro Junqueira foi arrancado de seu cavalo, enquanto supervisionava os trabalhos na lavoura até o momento em que os escravos arrebentaram a machadadas a porta do quarto em que o último homem da casa havia se refugiado com as mulheres e crianças da casa.

Politicamente, deixo aqui minhas homenagens aos escravos, que lutavam da maneira que podiam para voltar a ser livres e também aos membros da família, que ajudavam a desbravar as terras ainda virgens dessa região do país.

Brasil, Minas Gerais, São Thomé das Letras,

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