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Karina (27/09)
Olá, também estou buscando o contato do barqueiro Tatu para uma viagem ...
ozcarfranco (30/08)
hola estimado, muy lindas fotos de sus recuerdos de viaje. yo como muchos...
Flávia (14/07)
Você conseguiu entrar na Guiana? Onde continua essa história?...
Martha Aulete (27/06)
Precisamos disso: belezas! Cultura genuína é de que se precisa. Não d...
Caio Monticelli (11/06)
Ótimo texto! Nos permite uma visão um pouco mais panorâmica a respeito...
Cores fortes e arquitetura colonial em Antigua, na Guatemala
Acordamos sem muita pressa, no mesmo ritmo da cidade em véspera de Ano Novo. Pouco movimento nas ruas, clima de feriado. Fomos tomar café outra vez na excelente padaria quase em frente ao hotel, a San Martin. Parece até uma daquelas padarias mais chiques de São Paulo. Aí, enquanto esperávamos o sanduíche quentinho e já bebíamos o suco espremido na hora acompanhado de iogurte com frutas e granola, contei um pouco para a Ana da história recente desse país.
A bela igreja La Merced, em Antigua, na Guatemala
A Guatemala experimentava um raro período de continuidade democrática logo depois da 2ª Guerra Mundial. Um governo de centro-esquerda sobreviveu a várias tentativas de golpes na virada da década e entregou o governo a outro, democraticamente eleito, no início da década de 50. Era o governo de Arbenz, militar que se elegeu prometendo um amplo programa de reforma agrária e distribuição de terra. A Guatemala, caso típico na nossa América, tinha quase toda a sua terra cultivável nas mãos de uma porcentagem mínima da população. Boa parte dessa terra pertencia a famigerada United Fruit Corporation, maior produtora de bananas do mundo. Ocorre que sua política era manter boa parte da terra parada, produzindo em apenas a terça parte dela. Isso obedecia a estratégia de evitar uma super produção da fruta, além de estabelecer uma espécie de rodízio das suas terras. Pois bem, Arbenz cumpriu o que prometeu em campanha e começou a desapropriar as terras cultiváveis e que não estivessem produzindo. Pagava por elas o preço que seus proprietários declaravam para pagar menos impostos. O feitiço virou contra o feiticeiro. A desapropriação começou em suas próprias terras, como exemplo. Na verdade, nas terras da família da sua esposa, que vieram junto com o casamento. Em seguida, passou a desapropriar o maior latifundiário do país, a UFC. É claro que essa foi fazer lobby no congresso americano para tentar se defender.
A cidade colonial de Antigua, na Guatemala
O azar de Arbenz é que nessa época iniciava-se a Guerra Fria. Os EUA não queriam nem imaginar um país comunista bem no seu quintal. Qualquer desconfiança e a CIA logo entrava em ação. E assim um golpe foi armado, uma invasão de militares guatemaltecos descontentes vindos da fronteira de Honduras. Além de dinheiro e armas, a CIA também montou uma rádio para propagandear as vitórias dos golpistas e atacar o comunismo do governo. Esse golpe marcou época no imaginário da esquerda latino-americana e serviu de exemplo, por gerações, do chamado “imperialismo” norte-americano. Um dos que viu isso de perto, pois lá estava, foi um jovem Che Guevara, daí em diante mais do que disposto em pegar em armas para defender aquilo que pensava ser o certo.
A famosa fonte de 1738 do Parque Central de Antigua, na Guatemala
Pior do que o golpe foi o que veio depois: quarenta anos de governos autoritários, corruptos e ineficientes e uma guerra civil que matou mais de 150 mil pessoas. Uma breve comparação com o Brasil dá uma noção da força repressiva desses governos. No Brasil, durante a época da repressão, teriam morrido 1.500 pessoas, nas estatísticas mais elevadas. Ou seja, um centésimo do que morreu na Guatemala. Se considerarmos que a população brasileira é quase 10 vezes maior que a da Guatemala, podemos dizer que o morticínio no país centro-americano foi 1.000 vezes pior do que o nosso. E tudo começou por causa de uma reforma agrária nas terras de uma empresa produtora de bananas...
A Catedral de Santiago, no Parque Central de Antigua, na Guatemala
Foi só com o fim da Guerra Fria e o final do apoio americano àqueles governos “anticomunistas” que a paz e a democracia voltaram ao país. Estamos no meio do processo, muito ainda a se fazer contra a corrupção e o mais novo problema, o narcotráfico que está se estabelecendo no país. Mas hoje, ao menos, e somos testemunhas disso, o país é outro, respira-se liberdade, a cultura se renova e se fortalece e os viajantes exploram novamente esse lindo país que é a Guatemala, com tantas atrações culturais e naturais.
Vulcões cercam a cidade de Antigua, na Guatemala
E foi exatamente para a mais conhecida delas que rumamos depois do nosso café da manhã. A cidade colonial de Antigua, capital do país por quase toda a época de domínio espanhol. O charme dessa cidade e a beleza de seu entorno tem atraído as pessoas por séculos. Mais recentemente, tornou-se um centro mundial para o estudo de espanhol por estrangeiros, talvez o maior na América Latina. Uma das consequências disso foi a sofisticação dos hotéis e, principalmente, dos restaurantes de Antigua. Resumindo: come-se muito bem na cidade!
Bonecos gigantes dançam ao som de Marimba no centro de Antigua, na Guatemala, véspera de Ano Novo
Eu e a Ana chegamos nessa joia de cidade um pouco antes do almoço e a primeira grande tarefa foi achar uma pousada. Afinal, não fomos apenas nós que tivemos a brilhante ideia de passar o réveillon por aqui. Como em todo o mundo, a praia é a primeira opção dos guatemaltecos, mas para quem não gosta de mar ou de muita confusão e engarrafamento, Antigua é a segunda opção, principalmente pela proximidade da capital, menos de 40 minutos. Acabamos achando um mais simples, mas bem simpático e garantimos lugar para as noites seguintes, já bem mais tranquilas, num outro com um quarto bem gostoso e mais barato (estava lotado para hoje).
Uma das muitas igrejas em ruínas (terremotos!) no centro de Antigua, na Guatemala
Depois, fomos nos deliciar caminhando pelas ruas de pedra da cidade, explorando suas igrejas e antigas construções. Boa parte das igrejas ainda está em ruínas, resultado do devastador terremoto de 1773 e a consequente mudança da capital para a Cidade da Guatemala. Mas os restos das suas estruturas estão lá, charmosos e decadentes, lembrete claro de que a Terra está viva. Aliás, não faltam lembretes disso em Antigua. A começar pelos vulcões que cercam a cidade, um deles em contínua atividade. Mas os vulcões serão assunto para outro post. De volta às igrejas, a mais bela é a La Merced, também destruída no terremoto, mas parcialmente reconstruída no século seguinte.
Banda de Marimba, no centro de Antigua, na Guatemala
No Parque Central estão a bela Catedral de Santiago e o vistoso Palacio del Ayuntamento, além de uma famosa fonte de 1738. Ao lado do parque, a calle peatonal (5a Av Norte), centro nervoso da cidade, com a atenção de centenas de pedestres sendo disputadas por artistas populares e, principalmente, simpáticas bandas de marimba. Essas são formadas por vários senhores engravatados e vestidos solenemente em seus ternos, batendo simultaneamente com seus martelinhos no enorme instrumento a sua frente e produzindo agradável ritmo e música. É a cara de Antigua!
Música ao vivo no restaurante La Opera, no centro de Antigua, na Guatemala
Para finalizar com chave de ouro nossa última tarde do ano, escolhemos um restaurante muito legal para tomar uma garrafa de vinho. No restaurante tocava um senhor um instrumento parecido com um acordeon, músicas da melhor qualidade, de bossa nova à clássicos do tango. Simpatizou muito com a Ana, que estava sempre a aplaudi-lo e esticou sua sessão apenas para tocar para nós. Um espetáculo inesquecível que guardaremos para sempre, momentos que marcam uma viagem. Mesmo uma viagem longa como a nossa, tão cheia desses momentos especiais.
Garrafa de vinho na última tarde do ano em charmoso restaurante no centro de Antigua, na Guatemala
Por fim, já escuro, fomos encontrar a Rossana, guatemalteca aqui de Antigua que só conhecíamos por internet. Ela é amiga do Rodrigo, amigo brasileiro da Ana que mora na Cidade do México. Ele as apresentou via Facebook e combinamos de passar o Ano Novo com ela. Fomos nos ver pessoalmente, pela primeira vez, e combinamos como seria a noite. Ceia num hotel de um conhecido e madrugada num bar de outro conhecido. Assim, já temos programa para o réveillon!
Garrafa de vinho na última tarde do ano em charmoso restaurante no centro de Antigua, na Guatemala
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