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Leito seco de antigo lago na parte norte do Death Valley National Park, na Califórnia - EUA
O local hoje conhecido como Vale da Morte já era habitado a mais tempo do que podemos imaginar. A tribo indígena Timbisha Shoshone há muitos anos chama o imenso vale de lar. Nesta terra de extremos eles se adaptaram e aprenderam a viver com as mais altas e as mais baixas temperaturas, pouca água e fonte de alimento escassa. A sabedoria milenar deste povo os fez viver em comunhão com a natureza do vale que batizaram de Tümpisa, que significa na sua língua o “vale da vida”.
Death Valley visto do mirante Dante´s View, no Death Valley National Park, na Califórnia - EUA
Mosaico de cores no fundo do Death Valley, visto da Dante´s View, no Death Valley National Park, na Califórnia - EUA
O Death Valley foi assim batizado após 1849, quando a Corrida pelo ouro na costa oeste começou. Os homens que se aventuravam tentaram encontrar caminhos alternativos para a atual Califórnia. Um grupo que passou pelo vale perdeu suas mulas e um homem que não aguentaram a árdua tarefa de cruzar o deserto árido e escaldante. Conta a lenda que despedindo-se do vale um deles teria dito “Goodbye Death Valley” ou “adeus vale da morte”, e o nome ficou.
Caminhando no leito seco do lago da Race Track, no Death Valley National Park, na Califórnia - EUA
Hoje o dia prometia uma longa programação, começando cedo pelo Zabriskie Point, 16km ao sul de Furnace Creek. Um mirante para uma cadeia de montanhas amareladas que mais parecem imensos sulcos na terra.
O incrível Golden Canyon, visto de Zabriskie Point, no Death Valley National Park, na Califórnia - EUA
21 km mais ao sul subimos aos 1.669m de altitude em um dos mirantes mais famosos do parque, o Dante´s View. Lá temos uma vista maravilhosa de toda a área que conhecemos ontem, o Salar Badwaterbasin, ponto mais baixo do continente americano e toda a cadeia montanhosa que está em constante movimento. As placas tectônicas que formam o vale continuam em movimento, aqui elas se encontram e enquanto o fundo do vale desce, a Panamint Range continua se elevando.
Turistas no alto de Dante´s View, no Death Valley National Park, na Califórnia - EUA
O retorno é por um cenário bem conhecido pelos mineradores, que no início da busca pelo ouro encontraram aqui o bórax. O ouro só foi encontrado depois, ao leste de onde hoje se localiza o parque. Por este cânion passava a Twenty Mule Team, carroagens puxadas por 20 mulas que transportavam todo o minério até a ferrovia. Hoje o parque ainda não está totalmente livre da cobiça dos mineradores, que continuam a exploração nos seus arredores e ainda brigam por ampliar suas áreas dentro das fronteiras da reserva.
As famosas charretes de vinte mulas, da época da mineração no Death Valley National Park, na Califórnia - EUA
Fizemos um pit stop em Furnace Creek para um último banho de piscina e uma boa ducha, já que a noite será em um camping mais selvagem, longe de tudo e todos. Nos abastecemos e seguimos mais 88km ao norte, direto para o Scotty´s Castle.
O exótico Scotty´s Castle, no norte do Death Valley National Park, na Califórnia - EUA
A corrida do ouro sofreu uma brusca decaída em 1912 e as empresas mineradoras começaram a buscar outra forma de ganhar dinheiro com a estrutura que haviam montado, começando a divulgar a região para o turismo. Zabriskie, vice-presidente da companhia mineradora de Borax, foi quem redirecionou o negócio com um incrível empreendedorismo e usou suas linhas férreas para colocar turistas de todos os lados aqui, no Death Valley. Isso sim é ter visão!
Ficamos minúsculos ao lado da enorme cratera do vulcão Ubehebe, no norte do Death Valley National Park, na Califórnia - EUA
Construído em 1920, o castelo foi parte da lenda que atraiu os primeiros turistas ao parque, Scotty e seu amigo viviam ali e recebiam curiosos que vinham de longe para ouvir suas histórias sobre aquela terra distante e sobre os aventureiros que passavam por ali. Hoje o castelo virou um museu que conta parte dessa história.
Pequeno vulcão ao lado da cratera do vulcão Ubehebe, no norte do Death Valley National Park, na Califórnia - EUA
A próxima parada foi a 13km dali, no Vulcão Ubehebe. Sua primeira erupção foi apenas há 2 mil anos atrás, imagino que os Timbisha Shoshone devem ter ouvido de longe! A explosão criou um cenário de outro planeta, a cratera principal, magnífica, que desvendou as camadas de rocha multicoloridas e outras crateras menores nos seus arredores. A caminhada de uma hora ao redor da cratera vale a pena, ainda mais no final da tarde quando aquela luz mágica deixa as cores ainda mais intensas.
A impressionante cratera do vulcão Ubehebe, no norte do Death Valley National Park, na Califórnia - EUA
Até este ponto rodamos apenas por estradas pavimentadas e perfeitas, porém daqui em diante seguimos por estradas de terra e pedra por mais 43km para chegar ao nosso destino final no roteiro deste parque nacional, o Racetrack.
As incríveis pedras que se movem e seus rastros, na Race Track, no Death Valley National Park, na Califórnia - EUA
Quem gosta de assistir reportagens sobre natureza e fenômenos inexplicáveis já deve ter ouvido falar das “pedras que andam”. Eu já tinha ouvido falar, mas não sabia que este fenômeno acontecia aqui! Uma vez um imenso lago, hoje uma planície de argila fina e seca que abriga as tais rochas caminhantes. Nenhum cientista conseguiu explicar ainda como o fenômeno acontece, principalmente pelas marcas deixadas pelas pedras acontecerem em uma superfície completamente plana e em diferentes direções!
Leito seco de antigo lago na parte norte do Death Valley National Park, na Califórnia - EUA
A teoria mais aceita é que em períodos de chuva, raros por aqui, a base do lago recebe uma fina camada de água que se congela com as baixíssimas temperaturas da noite. O movimento da pedra então seria facilitado, deslizando pelo gelo com um empurrãozinho dos fortes ventos que sopram de todas as direções com uma força tremenda! Parece até fazer sentido, mas se você pensar, que vento consegue arrastar uma pedra de 40kg?
As incríveis pedras que se movem e seus rastros, na Race Track, no Death Valley National Park, na Califórnia - EUA
Fomos montar o nosso acampamento com o resto de luz e com essa incógnita na cabeça. Camping selvagem, vento e muito frio nesta área mais alta do parque, com uns poucos vizinhos nos arredores. Comemos um miojo, que àquela altura parecia delicioso e tomamos uma deliciosa garrafa de vinho, californiano, é claro!
Felizes com o dia magnífico, acampados ao lado do Race Track, no Death Valley National Park, na Califórnia - EUA
A lua cheia nasceu mais tarde iluminando toda a paisagem, deixando até a furtiva e curiosa raposa fácil de ser descoberta. Na lua cheia é sempre mais difícil de dormir, em uma barraca gelada então? Quase impossível. É nessa noite que nos despedimos do Tümpisa, o vale da vida que já nos deixa saudosos sem nem termos ido embora.
Noite de lua cheia e maravilhosa no acampamento ao lado do Race Track, no Death Valley National Park, na Califórnia - EUA
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